terça-feira, 20 de maio de 2014

Uma Crise a jato - Ex-diretor da Petrobras e doleiro na mira da CPI .

• Oposição quer convocar Paulo Roberto Costa, que deixou o presídio, e Alberto Youssef para prestarem depoimento no Congresso

Amanda Almeida, Paulo de Tarso Lyra, Étore Medeiros – Correio Braziliense

Menos de cinco horas depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir soltar o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, a oposição avisou que vai convocá-lo para a CPI Mista, que deve ser instalada amanhã no Congresso. Réus do processo derivado da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, Costa e o doleiro Alberto Youssef — que também será chamado para depor — são considerados peças centrais no esquema de corrupção desencadeado na estatal ao longo dos últimos 10 anos, o que pode trazer mais dor de cabeça para o governo. Juntos, os dois são acusados de participar de esquema que movimentou R$ 10 bilhões.

Como diretor de Refino e Abastecimento, Costa participou de todas as operações da Petrobras questionadas recentemente, a exemplo da compra das refinarias de Pasadena (Estados Unidos) e de Okinawa (Japão), bem como a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que tem indícios de superfaturamento. "Ele era diretor na época. É necessário saber mais do envolvimento com o doleiro (Alberto Youssef). Foram movimentados bilhões de reais no esquema de lavagem de dinheiro. De onde vieram esses recursos?", questiona o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (SP).

Os oposicionistas observam Costa desde a eclosão do escândalo. A comissão externa criada pela Câmara para examinar as denúncias de pagamento de propina à empresa holandesa SBM Offshore chegou a aprovar um requerimento para ouvir o ex-diretor no presídio de Londrina, na modalidade convite. O juiz do caso, Sérgio Moro, deferiu o pedido, mas os advogados de defesa de Costa usaram a prerrogativa de negar a audiência. Na CPI, entretanto, ele será obrigado a comparecer, por se tratar de uma convocação. O que não significa que a base governista — maioria tanto na CPI do Senado quanto na mista — não vá usar de todas as táticas protelatórias possíveis para evitar isso.

"Costa e Youssef sabem muita coisa. Veja que ninguém mexeu uma palha para tirar os dois da cadeia", disse um senador aliado, há uma semana. "Tentei também entrar com um requerimento para ouvir o Paulo Roberto Costa e ouvi deles mesmos (base aliada): "Nem tente, porque nós não vamos aprovar"", revelou o tucano Cyro Miranda (GO), integrante da CPI do Senado.

Para o senador, a CPI na Casa é uma farsa. "Vamos concentrar esforços na CPMI, onde talvez tenhamos mais chances, por termos sete integrantes. E contamos também com uma parte da base do governo que está descontente", completou Miranda, em uma referência ao blocão, composto por 250 deputados insatisfeitos com o Planalto e capitaneados pelo PMDB de Eduardo Cunha (RJ).

À espera
No Planalto, a ordem, por enquanto, é esperar os desdobramentos das ações da oposição. "Não há uma estratégia definida após a libertação (de Costa)", admitiu um interlocutor governista. "Por enquanto, nossa única preocupação é esclarecer todos os fatos colocados e evitar que a oposição use a CPI — qualquer que seja ela — com caráter eleitoreiro", emendou.


Outro aliado próximo à presidente desdenhou da possibilidade de revelações bombásticas por parte de Costa e Youssef. "Eles são réus em um processo. Duvido que tenham alguma disposição de falar algo que possa incriminá-los posteriormente", ponderou o interlocutor governista.

"Retaliação"
O presidenciável Eduardo Campos (PSB-PE) considerou "retaliação" política a inclusão da investigação em torno do Porto de Suape na CPI da Petrobras no Senado. "(Suape) é uma empresa estadual bem gerida, com as contas aprovadas, sempre gerida por quadros técnicos", defendeu, em entrevista à Rádio Bandeirantes. "É óbvio que sim, é uma retaliação." O ex-governador de Pernambuco também desferiu críticas à atual gestão da Petrobras e sugeriu que, em um futuro governo, sejam respeitados quatro princípios: escolher diretores por competência, blindar a empresa da corrupção, cumprir os planejamentos estratégicos e estabelecer uma regra clara para os preços dos combustíveis.

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