Às vésperas do primeiro turno, em 5 de outubro, as eleições já não se reduzem a encaminhar o que impropriamente vem sendo chamado de sucessão presidencial, como se elas fossem um processo naturalizado, e não um momento da vida nacional essencialmente político e movimentado, no qual sempre é possível o inesperado.
A morte de Eduardo Campos redimensionou o quadro político ao quebrar a ordem criada por um confronto entre o PT e o PSDB, que até então se mostrava estabelecida. Esta polarização recobria – e ainda procura se impor, como se vê na propaganda de um e outro lado –, visões simplificadoras da nossa sociedade. Somos uma sociedade que cada vez mais se diferencia no plano econômico-social, no extenso mundo associativo, nas múltiplas culturas, nos meios de comunicação livres e assim por diante.
Nesse novo curso após a morte de Eduardo Campos, com a consolidação competitiva da terceira via na candidatura de Marina da Silva, a disputa iria passar a ser mais congruente com a complexidade brasileira, e já não estaria destinada a um desfecho único prefigurado por aquele embate dualista que vinha subsumindo toda a eleição presidencial.
Redimensionadas, as eleições tanto podem reproduzir a atual presidência da república, como interromper, com a vitória das oposições, o ciclo dos 12 anos dos três últimos governos.
As interpelações dos protestos de opinião pública de junho de 2013, de significado político esquecido nas campanhas eleitorais, estão de volta, quer na questão da qualidade dos serviços públicos – que já vinha se afirmando e ora domina o pleito – quer nos temas políticos, que aí estão abrindo caminho, como a questão da função da política como tal, o mais importante deles.
O encontro de todos com todos, que a rigor são as eleições, por sua natureza enseja resultados anticatastróficos. Pelo que temos notado nos últimos 40 dias de lutas acirradas, mas também de debates que se apresentam aos eleitores de modo bem mais nítido, a própria política torna a ocupar o seu lugar de instrumento de transformação das coisas, agora, no segundo turno,e muito mais ainda no tempo difícil após a conclusão do processo eleitoral, tanto no cenário da reeleição como no de um novo governo.
Raimundo Santos é professor da UFRRJ.
[Publicado no boletim Rural Semanal (UFRRJ), 29/9 a 5/10/2014].
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