- O Globo
Do ponto de vista meramente eleitoreiro e pessoal, o PSDB pode dizer que ter sido derrotado foi uma sorte, pois estaria sendo acusado pelo PT na oposição de tomar medidas impopulares que não seriam necessárias.
Era isso o que a candidata vitoriosa, Dilma Rousseff, dizia na campanha, e certamente essa postura otimista teve muito a ver com sua vitória apertada, além, é claro, de todas as demais atitudes antiéticas que sua campanha adotou no ataque direto aos adversários mais fortes, tanto o do PSDB quanto Marina no 1º turno.
Do ponto de vista do país, o que estamos vendo é um governo tendo que tomar medidas dramáticas para tentar consertar os erros que cometeu no 1º mandato, e perdido entre as disputas políticas internas. A "herança maldita", que o PT tanto apontou contra o governo de Fernando Henrique Cardoso que o antecedeu, nem de longe se compara à herança que Dilma deixou para ela mesma, levando o país a uma quadra de economia débil que ameaça se repetir neste 2º mandato.
A tempestade perfeita que os "pessimistas" previam está acontecendo nos primeiros 20 dias do 2º mandato, o que significa que o país que ela governou por 4 anos está em estado de calamidade. Desde o fechamento das urnas, o cidadão já recebeu aumentos de impostos, taxas, juros e tarifas que ela negava que fossem necessários, além do desemprego que já é uma ameaça real.
E, mais espantoso, parte do PT já se coloca contra as medidas que vêm sendo adotadas pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy, usando o economista Luiz Gonzaga Belluzzo como porta-voz da contestação ao "neoliberalismo" que teria tomado conta do governo Dilma, que teria abdicado de seu poder sem necessidade.
O apagão que atingiu ontem 9 estados e o Distrito Federal, nessa visão, seria apenas um acidente sem prenunciar maiores problemas, muito menos um racionamento de energia. Usam o mesmo artifício banal que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que finge negar que em seu estado há racionamento, falando da mesma "restrição hídrica" culpada pelo governo do apagão. O novo ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, que vive com um sorriso nervoso nos lábios, foi capaz de duas frases memoráveis sobre o mesmo assunto nos dias que antecederam o grande apagão.
"Temos energia, ela apenas está mais cara", garantiu. E depois prometeu que o aumento para o consumidor "não chegará a 40%", como se isso fosse boa notícia. A Caixa Econômica subiu os juros do financiamento imobiliário, e foi apanhada pelo Tribunal de Contas da União usando o mesmo artifício que a Petrobras utilizou para não fazer licitações: usava empresas de papel para simular negócios.
O Banco Central não parece disposto a parar de subir os juros, o que começou a fazer na 1ª semana após o 2º turno, apesar da economia estagnada, provavelmente com crescimento negativo já este ano. Depois de restringir o seguro-desemprego, pensões e abono salarial, Levy anunciou ontem novas medidas fiscais, criando um problema para a Petrobras com o aumento da Cide, que recai sobre o preço da gasolina.
Para que a alta não chegue às bombas, a estatal terá que deixar de aumentar o preço, ficando mais uma vez sem recuperar o prejuízo por questões políticas. Todos os aumentos de impostos anunciados darão ao governo um gás no faturamento, mas implicarão o aumento da inflação.
E o ministro da Fazenda, que está indo para o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, tentar convencer os investidores de que está colocando o país nos trilhos, é o grande alvo não só do PT como da oposição, que não está disposta a lhe dar crédito, mesmo sabendo que está no caminho certo, dentro das circunstâncias.
O PT acha que o caminho está errado, e o PSDB acha que faria melhor e com mais efeito, pois os investidores não precisariam ser convencidos já que as medidas fariam parte de um programa mais amplo e coerente.
E a presidente Dilma continua fazendo política barata, trocando a terceira posse de Evo Morales pelos investidores de Davos, e tentando criar um fato político com a condenação de um traficante brasileiro na Indonésia.
Mais obstáculos
O julgamento do petrolão terá mais obstáculos do que se pode supor no momento. Além dos dois novos ministros que devem compor a Segunda Turma que vai julgá-lo, e a discussão sobre os embargos infringentes, haverá mais uma questão burocrática com implicações políticas: dentro de dois anos, a ministra Cármen Lúcia presidirá o Supremo, deixando a turma em meio ao julgamento. E quem assumirá sua vaga? O ministro Ricardo Lewandowski.
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