• A tarde de ontem ilustrou quatro anos de inépcias no setor de energia elétrica e nas contas do governo
- Folha de S. Paulo
A gente mal se entendia sobre as causas e a extensão do apaguinho gigante de ontem quando o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, aparecia na TV a fim de anunciar um pacotinho de aumento de impostos. Foram quatro anos em uma tarde, pelo menos como metáfora: a escassez de energia e de dinheiro no caixa do governo devido às negligências e erros primitivos cometidos no governo Dilma Rousseff 1.
Haverá longas e baixas discussões de política politiqueira a respeito do apaguinho gigante, "apaguinho", como era diminuído ontem por gente do governo, e gigante por atingir dez Estados. Seriam os primeiros sinais de racionamento? Já é um racionamento? Foi o calor, a seca, o mau planejamento do governo?
Racionamento, foi. Pontual, mas foi. Não havia energia elétrica suficiente, por problemas de transmissão ou produção, ainda estava difícil de saber no início da noite de ontem, quando esta coluna era escrita. Mas o motivo básico do apaguinho gigante foi o fato de não ser possível ofertar eletricidade bastante onde a energia era requerida, ponto.
Governos costumam mentir sobre o assunto. No governo FHC, os "apaguinhos" começaram um ano antes da decretação do racionamento, que viria em 2001. Em maio de 2000, o governo tucano dizia que não havia racionamento, mas "gerenciamento da demanda de energia" (indústrias eram "convencidas" a reduzir o consumo em horários de pico). Afora isso, o governo FHC não tomou medida sistemática alguma para evitar o pior. Como agora, como o fazem o governo Dilma ou o de Geraldo Alckmin (PSDB) com a água. Sobreveio o pior.
O sistema de produção de energia está no limite, batendo pino, operando com usinas que deveriam ter uso limitado; há calor excessivo e seca. O sistema opera no limite, de resto, devido a atrasos grotescos de produção de energia, tanto devidos a incompetências do governo como de empresas privadas. Opera ainda mais no limite porque o governo, com seu desconhecimento de economia elementar, estimulou a demanda em tempos de escassez, subsidiando o consumo de energia. Subsidiou o consumo de energia tanto para disfarçar a inflação como para salvar a face de um programa fracassado de redução de custos, de 2012.
Como se não bastasse, esse programa, mantido em 2014 de resto por motivos eleitoreiros, contribuiu para esvaziar os cofres do governo, motivo pelos quais o governo anunciou ontem o primeiro dos pacotinhos de aumentos de impostos do ano. Segundo o Ministério da Fazenda, os quatro aumentos de ontem devem render uns R$ 20 bilhões.
Talvez seja mais. Apenas com a volta do "imposto da gasolina", a Cide, parece possível arrecadar uns R$ 17 bilhões, embora seja hora difícil calcular a contenção do consumo de gasolina e diesel tanto devido à recessão quanto ao próprio aumento de preços. O preço médio nas bombas deve subir uns 11%.
Não há como evitar aumentos de impostos, dada a pindaíba do governo, que poderia terminar em descrédito e crise financeira, se nada fosse feito. Se nada for feito a respeito de eletricidade ou sobre a Petrobras, outras crises poderão vir. Nada disso, porém, exime o governo da culpa de ter criado esse ambiente de crise.
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