• Quando parece começar novo ciclo de manifestações de rua, com a atuação de radicais, lembre-se que a garantia da estabilidade está no respeito à Constituição
O país parece entrar em novo ciclo de manifestações de rua, depois daquele iniciado em junho de 2013, de origem espontânea nas redes sociais, e depois desvirtuado pela violência de grupelhos. Com a elevação da temperatura da crise política, da qual uma das centelhas foi a constatação de que a presidente Dilma teve de se curvar à agenda do ajuste econômico que ela rejeitara no palanque da reeleição, partidos e facções políticas fazem convocações de passeatas e concentrações.
Hoje, sindicatos, organizações em geral aliadas ao governo pretendem, das ruas, transmitir apoio a Dilma, forçada a lutar no front da crise econômica e no da política. Neste, sofre intensa erosão de popularidade enquanto avançam as investigações do escândalo na Petrobras, estatal a que esteve ligada de diversas formas desde 2003, com a chegada de Lula e PT ao Planalto. No domingo, será a oposição a protestar em várias cidades.
As manifestações precisam mesmo ser livres, conforme estabelece a Constituição, respeitados os devidos limites legais, os códigos de urbanidade e a sensatez. De lado a lado, há radicalização. Se existem saudosos da ditadura militar — muitos sequer viveram aquela época para saber o que é um regime de opressão —, existe o fascismo vestido de vermelho de organizações como o MST e outras. Na democracia cabem todos, e o que mantém os extremos sob o devido controle é a Constituição, a ser respeitada sem "poréns", bem como, é claro, as instituições assentadas sobre ela.
O momento é delicado porque nunca o lulopetismo esteve tão acuado. Nem no mensalão, quando havia crescimento econômico. Agora, o petrolão —um assalto aos cofres públicos via Petrobras de tamanho muito superior ao que foi praticado no BB/Visanet pela “organização criminosa" anterior — tem as vísceras expostas em meio a uma difícil conjuntura econômica.
Sobrepõem-se a tramitação do petrolão no Supremo e na Justiça comum, os desdobramentos da crise econômica — que deve consumir todo este ano — e a evolução da crise política, alimentada por um governo até aqui inepto nas imprescindíveis negociações com o Congresso.
As ruas, portanto, tenderão a estar agitadas, o que é natural numa democracia. Também por isso, mais do que nunca as instituições precisam ser protegidas para funcionar como devem: o Supremo tem de repetir a experiência do mensalão, com um julgamento técnico, livre de interferências políticas, e o Executivo deve melhorar a competência administrativa numa conjuntura ingrata e, junto com o Congresso, preparar o terreno para a volta ao crescimento.
E quanto aos lulopetistas, precisam se convencer da inviabilidade do projeto de se eternizar no poder por vias que não sejam as da democracia representativa. Não há espaço mais no Brasil para surtos de autoritarismo, não importa de que lado venham.
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