• Em ato no RS, líder do MST diz que reagirá contra "golpe da burguesia"
Flávio Ilha – O Globo
PORTO ALEGRE, SÃO PAULO e RIO - O principal dirigente do MST no país, João Pedro Stédile, pediu ontem à presidente Dilma Rousseff que "não se acovarde" diante da pressão de setores do país "que querem tomar o poder no grito", referindo-se aos protestos do próximo domingo contra o governo. Stédile participou ontem na capital gaúcha de um ato em defesa da Petrobras. Em recente ato em defesa da estatal, no Rio, o ex-presidente Lula disse que estava pronta para a briga com a oposição e que contava com o "exército" de Stédile. Ontem o líder do MST deu um recado à militância:
- Engraxem as botas e as chuteiras que o jogo só está começando. Quem não tiver barraca, compre uma. Compre um tênis. Estamos aqui no vestiário, só nos preparando.
Diante de um público estimado em cinco mil pessoas pela Brigada Militar, Stédile comparou a situação atual ao período da campanha da legalidade, em 1961, quando o então vice-presidente João Goulart foi impedido de assumir a Presidência com a renúncia de Jânio Quadros, o que levou à implantação do parlamentarismo no país. Ele prometeu "botar o povo na rua", após os atos de domingo, para garantir que o país "faça as reformas necessárias":
- Se a burguesia tentar dar um golpe, temos que assumir um compromisso de ocupar as praças, acampar, fazer vigílias e, daqui do Rio Grande, como foi na campanha da legalidade, exigir respeito à democracia, manter o povo unido e marchar a Brasília para exigir que esses idiotas da Globo e do capital internacional, que querem botar a mão no pré-sal, respeitem a democracia e o povo possa avançar. Esperamos também que a nossa companheira Dilma tenha a coragem do velho Brizola. Dilma, não se acovarde. Não caia na esparrela do ajuste neoliberal. - discursou Stédile, citando o ex-governador Leonel Brizola, que liderou a campanha da legalidade para garantir a volta ao país de João Goulart, que estava no exterior, quando Jânio renunciou.
O ato em Porto Alegre foi o primeiro da série de protestos que continuará hoje pelo país. Ontem, militantes da CUT, do MST e da Via Campesina, entre outras entidades, ocuparam ruas da capital gaúcha com faixas em defesa da estatal e contra o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Segundo os organizadores, cerca de 50 ônibus locados transportaram militantes. Havia delegações de cidades como Caxias do Sul e Farroupilha, e de regiões mais distantes da capital.
Apesar do pedido feito a Dilma, Stédile, em entrevista, criticou a presidente e disse que ela foi eleita para fazer reformas populares, e não um ajuste neoliberal. Também disse que o MST continua esperando pelos assentamentos prometidos por Dilma na campanha.
Os atos de hoje estão previstas para ocorrer em 26 estados. Os protestos deverão começar de manhã e se estender por todo o dia. A CUT divulgou que só não haverá ato em Rondônia. E o MST informou que está mobilizado em 16 capitais. Os dirigentes das centrais sindicais dizem que o ato não é contra nem a favor do governo.
- Nossa pauta é em defesa dos direitos dos trabalhadores, da Petrobras, da democracia e pela reforma política. Isso foi tirado em comum acordo com todos os movimentos participantes. Não é contra nem a favor do governo. Mas não defendemos impeachment porque temos um regime democrático - disse o presidente da CUT-SP, Adi Santos Lima.
Está marcado para hoje em São Paulo um ato em frente à sede da Petrobras para pedir o impeachment de Dilma, organizado pelo grupo Revoltados Online. A CUT pediu em carta à Secretaria de Segurança Pública "especial atenção dos órgãos de segurança" para hoje.
No Rio, a convocação foi por redes sociais. O presidente estadual do PT e prefeito de Maricá, Washington Quaquá, foi um dos petistas que postou a convocação em sua página no Facebook. Funcionários comissionados da prefeitura de Maricá receberam mensagens informando que ônibus estarão disponíveis para levar a militância a partir de meio-dia. Nessa mensagem, comissionados foram informados que estarão dispensados à tarde. Quaquá confirmou que o PT vai oferecer ônibus, mas negou a convocação de funcionários. (Colaboraram Marcelo Remígio e Julianna Granjeia e Silvia Amorim)
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