• Ata do Copom não ajuda a desfazer a névoa a respeito do destino das taxas de juros --ao contrário
- Folha de S. Paulo
Uma das tantas incertezas perturbadoras desta economia brasileira escangalhada de agora é o destino da taxa de juros e, por tabela, claro, do tamanho do arrocho adicional que poderia vir pelo lado da política monetária, para nem falar do tamanho adicional da conta de juros, deficit e dívida. A exposição de motivos do Banco Central para o mais recente aumento de juros, divulgada ontem, não diminuiu a barafunda de hipóteses.
Nesse documento, a Ata do Copom, o pessoal do Banco Central induz a gente a pensar que, ainda mais do que de costume nos últimos quatro anos, as decisões dependem de informações adicionais a respeito do que será do dólar e das expectativas de inflação para 2016 (2015, claro, já foi para o vinagre, com inflação de pelo menos 8%).
Para piorar, o BC baseou suas projeções e análises em um dólar a R$ 2,85 até o fim do ano que vem (quer dizer, essas eram as informações com as quais trabalhava até quarta-feira da semana passada).
Na média do ano, o dólar está abaixo disso, mas, como se sabe, o preço da moeda americana tem flutuado acima de R$ 3,10, nos últimos dias de modo desnorteado, para não dizer histérico. Quanto ao resto do ano, o cálculo das probabilidades de que o dólar fique na faixa do BC é uma pilhéria sem parâmetros.
O que vai ser do câmbio depende do que vai ser da política em geral, do destino que a política vai dar para o pacote de arrocho e da leitura que os donos do dinheiro grosso farão disso tudo.
A taxa de câmbio ainda vai depender pesadamente de uma outra barafunda, provocada pela divergência das políticas monetárias de Estados Unidos e Europa e pela incerteza acerca das taxas de juros americanas. Qual vai ser a resultante da diferença enorme e ainda crescente de juros americanos e europeus? A valorização mundial do dólar vai manter baixíssima a inflação americana e assim mandar para as calendas a alta de juros (o que pode adiar tumultos no Brasil e contribuir para segurar a disparada do dólar por aqui)?
Enfim, o que o Banco Central tende a fazer de seu programa de intervenções no câmbio, que dá uma segurada no preço do dólar? Vai ficar na mesma, dadas tantas incertezas e riscos de acidentes?
Como se não bastasse tanta dúvida quanto ao dólar, há mais névoa no futuro de informações elementares para pensar a política monetária. Qual será o efeito de um real desvalorizado, em tese inflacionário, em uma economia em recessão, recessão não se sabe de qual tamanho?
Além do mais, o Banco Central vinha dizendo, ao ritmo de dois passos adiante, um para trás, que faria o necessário para levar a inflação para a meta de 4,5% em 2016. A leitura desse texto sempre cheio de mumunhas da Ata agora pode sugerir a ideia de que tal objetivo pode ficar para 2017, mesmo que não se levem em conta deteriorações adicionais do cenário para a inflação.
Um arrocho adicional na taxa de juros, combinado ao provável arrocho nos gastos do governo, tende a retardar a recuperação econômica e piorar o estado das contas públicas (deficit e dívida), para mencionar apenas os problemas maiores e óbvios. Logo, nota-se quão mais nebuloso está o futuro, mesmo ali adiante, em abril.
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