- Folha de S. Paulo
Não vou participar nem das manifestações de hoje, de apoio crítico ao governo de Dilma Rousseff, nem das de domingo, que flertam com a ideia de despachar a presidente mais cedo para casa, mas fico feliz que elas ocorram.
A democracia, embora não esteja nos manuais, é necessariamente barulhenta e um pouco mal-educada. Acusar, xingar, propor "impeachment" (o PT cansou de pedi-lo quando era oposição), tudo isso é legítimo e faz parte do jogo. A falta só ocorre quando alguma parte recorre a saídas extraconstitucionais, o que ninguém está ameaçando fazer.
A razão para a barafunda é que a democracia não elimina o conflito entre diferentes facções políticas. Ela apenas procura discipliná-lo, de modo que a disputa pelo poder se resolva pela vias institucionais e não as de fato. De um modo geral dá certo, pois todas as correntes majoritárias vislumbram a possibilidade de um dia conquistar o Planalto. Paradoxalmente, crises econômicas se tornam bem-vindas nesse contexto, já que são um dos mecanismos mais efetivos para promover a alternância no poder, que é no fundo o que faz com que as democracias funcionem.
Com efeito, desde que restabelecemos a nossa, em 1985, não assistimos a revoluções, golpes e outras modalidades de ruptura violenta. Trinta anos não é muito, admito. Mas, em alguns países, o período de estabilidade proporcionado pela institucionalização das controvérsias chega a vários séculos, como é o caso dos EUA, do Reino Unido e da Sereníssima República de San Marino, cuja Constituição vigora desde 1600.
É claro que normalidade política não é tudo, mas é uma condição no mais das vezes necessária para que um país consiga aliar desenvolvimento econômico com um regime de liberdades, o que, por seu turno, permite aos cidadãos que se dediquem a buscar a própria felicidade. Na maioria das vezes não vão encontrá-la, mas o que vale é a jornada.
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