• Para presidente do Itaú Unibanco, saída da presidente traria instabilidade
• Banqueiro diz que pedaladas, embora graves, não justificam impeachment, e é preciso discutir o país
David Friedlander – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Uma das vozes mais influentes do empresariado brasileiro, o banqueiro Roberto Setubal faz uma defesa contundente da permanência da presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. Impeachment por corrupção, "pelo que vi até agora, não tem cabimento", afirma o presidente do Itaú Unibanco.
"Pelo contrário, o que a gente vê é que Dilma permitiu uma investigação total sobre o tema." Outro argumento usado pela oposição, as manobras para melhorar as contas do governo (pedaladas fiscais), podem "merecer punição", mas não são "motivo para tirar a presidente", segundo o banqueiro.
Maior banco privado do país, o Itaú foi fortemente hostilizado pelo PT na campanha presidencial de 2014.
Na visão de Setubal, tirar a presidente do poder agora "criaria uma instabilidade ruim para nossa democracia". Na semana passada, entidades do setor econômico fizeram manifestações públicas pela estabilidade do país.
A seguir, trechos da entrevista à Folha na sexta (21).
Folha - A presidente Dilma está sofrendo ameaça de um processo de impeachment, pressão por sua renúncia e manifestações de rua contra seu governo. O sr. vê motivos para tirá-la do Planalto?
Roberto Setubal - Nada do que vi ou ouvi até agora me faz achar que há condições para um impeachment. Por corrupção, até aqui, não tem cabimento. Não há nenhum sinal de envolvimento dela com esquemas de corrupção.
Pelo contrário, o que a gente vê é que Dilma permitiu uma investigação total sobre o tema [corrupção na Petrobras]. Era difícil imaginar no Brasil uma investigação com tanta independência. A Dilma tem crédito nisso.
E as pedaladas fiscais?
Isso é grave e pode merecer algum tipo de punição. Mas não me parece ser motivo para tirar a presidente. Até porque presidentes anteriores a ela passaram por situações semelhantes. Seria um artificialismo querer tirar a presidente neste momento. Criaria uma instabilidade ruim para nossa democracia.
Empresários dizem que, se o vice Michel Temer entrasse no lugar de Dilma, o país teria mais chance de sair da crise...
Não se pode tirar um presidente do cargo porque ele momentaneamente está impopular. É preciso respeitar as regras do jogo, precisa respeitar a Constituição. Eu sou a favor da Constituição.
Como avalia o comportamento da oposição nessa crise?
Não vou falar especificamente da oposição. Mas o que está faltando é discutir o país. Há uma grande discussão sobre poder e pouca discussão sobre o país. Precisamos debater quais as reformas necessárias para que o país possa se recuperar. Só estou vendo muita discussão de poder pelo poder.
Os empresários saudaram Joaquim Levy [Fazenda] como ideal para tirar o país da crise econômica. Por que ele não está dando certo?
Ele está fazendo as coisas certas, mas os efeitos positivos ainda não vieram. Vai muito além da capacidade de um ministro, sozinho, resolver os problemas do país. Ele precisa de apoio político tanto da presidente como do Congresso.
O governo usou bancos públicos novamente para salvar a economia, política já criticada por Levy. Não é um sinal de que o ministro está fraco?
Não vejo isso como uma direção do governo –se ficar nisso, claro. Acho uma medida pontual, sem muito impacto na economia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário