- Folha de S. Paulo
A saudade do poder parece ter batido forte em Higienópolis e São Bernardo. Com o governo Dilma atolado na crise, FHC e Lula estão falando como nunca. Os dois se tornaram ex-presidentes em atividade, como jogadores veteranos que se recusam a pendurar as chuteiras.
FHC saboreia uma exposição inédita desde que deixou o Planalto, com a popularidade em baixa. Escondido pelo PSDB em três eleições presidenciais, foi finalmente reabilitado na campanha de 2014. Agora, aos 84 anos, voltou a frequentar capas de revistas e programas de tevê.
A pretexto de divulgar dois livros novos, o tucano emite opiniões sobre tudo, sem medo de se contradizer. Já rejeitou o impeachment de Dilma, já propôs a renúncia de Dilma e já disse que Dilma é honrada. Para saber o que ele pensa hoje, é melhor esperar a entrevista de amanhã.
Lula, que deixou a Presidência no auge do prestígio, percorre a trajetória inversa rumo ao purgatório. A cada revelação da Lava Jato, enfrenta mais dificuldade para explicar os escândalos de seu governo. Aos 70 anos, vê as suspeitas chegarem mais perto de sua família –nesta quarta, o filho caçula teve que depor à PF.
O petista costuma evitar a imprensa, mas não perde a chance de discursar em ambientes à prova de vaia. No palanque, alterna críticas à oposição a estocadas em Dilma. Há poucos dias, surpreendeu ao reconhecer que ela está fazendo "aquilo que nós dizíamos que não íamos fazer".
Apesar das divergências sobre o governo da sucessora, FHC e Lula parecem ter o mesmo assunto preferido: falar mal um do outro. Em entrevista recente à revista "Veja", o tucano acusou o petista de estar "enterrando a própria história". Ontem à noite, no SBT, Lula respondeu que FHC "sofre com seu sucesso".
Em vez de buscarem um consenso mínimo contra a crise, os dois ex-presidentes perdem tempo com um eterno duelo verbal. Parecem aprisionados aos anos 90, enquanto o país espera respostas para o presente.
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