Por Tainara Machado e Eduardo Campos - Valor Econômico
SÃO PAULO e BRASÍLIA - Após anos com crescimento superior à media nacional, o Norte e o Nordeste deixaram de impulsionar a economia brasileira e apresentam retração da atividade em linha com o restante do país, segundo dados divulgados pelo Banco Central no Boletim Regional.
Enquanto o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) caiu 1,4% no trimestre encerrado em agosto, na comparação com o período terminado em maio, feitos os ajustes sazonais, a economia do Norte teve contração de 1,5% e a do Nordeste, de 0,9%, na mesma comparação. No ano passado, o IBC-Br caiu 0,2%, mas essas duas regiões apresentaram avanço ainda superior a 2%, de certa forma "imunes" a desaceleração da economia, já visível no ano passado.
Concentrada no Sudeste em 2014, a recessão se disseminou pelas demais regiões neste ano, com desempenho ruim tanto da indústria quanto do comércio. No Sul, por exemplo, o índice de atividade econômica desacelerou de uma alta de 0,9% em 2014 para queda de 0,1% até maio e contração de 2,8% nos três meses encerrados em agosto. No Sudeste, o IBC-SE encolheu 0,8% no trimestre encerrado em agosto, melhora em relação à queda de 1,3% vista até maio.
A economia que vem, de certa forma, se sustentando melhor é a do Centro-Oeste, que apoiada no agronegócio teve a menor contração entre as cinco regiões pesquisadas, com queda de 0,6% até agosto, ante retração de 0,7% nos três meses encerrados em maio.
O Banco Central agrega informações sobre a produção industrial, varejo, serviços e criação de empregos, entre outros indicadores, para compor o quadro de atividade regional. Para a autoridade monetária, a recessão atual reflete especialmente os impactos do patamar reduzido da confiança dos agentes econômicos, intensificados pelos efeitos de eventos não econômicos, além dos desdobramentos do processo de ajuste da economia do país. Dentro desse contexto, diz, "as economias regionais repercutiram com intensidades distintas os impactos do atual ciclo, conforme características estruturais próprias".
No Nordeste, a redução do comércio e da produção industrial teve desdobramentos sobre o mercado de trabalho, com saldo negativo de 42,9 mil vagas formais até agosto, ante criação de 48,9 mil postos de trabalho em igual período de 2014.
Para Paulo Neves, economista da LCA Consultores, a redução da renda disponível no Nordeste teve efeito direto sobre a desaceleração da economia local. Para ele, a região foi bastante afetada pelo realinhamento de preços, com aumento das tarifas de energia, e pelo aumento do desemprego, o que se refletiu sobre as vendas no varejo, que caíram 3,7% no trimestre encerrado em agosto.
Já o Norte sofre com os efeitos do arrefecimento da atividade no polo industrial de Manaus, segundo o BC. A região teve queda de 2,7% da produção industrial, acima da média nacional (-2,3%).
Segundo o BC, a retração da indústria abrange todas as regiões, exceto o Centro-Oeste, onde o aumento da atividade nas fábricas foi favorecido pelo desempenho da indústria alimentícia. A região também registrou o menor corte de empregos formais (5,3 mil) no trimestre, resultado favorecido pela criação de vagas na agropecuária. Para Neves, já no ano que vem a economia da região deve se estabilizar, diante da perspectiva de ganhos na balança comercial com a desvalorização do câmbio.
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