• Clã Picciani busca ampliar espaço nacional e regional
- Valor Econômico
O esvaziamento paulatino da força de Eduardo Cunha - cujo processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara teve o relator, Fausto Pinato (PRB-SP), anunciado - é acompanhado pelas especulações sobre quem o sucederá. Muitos nomes já foram aventados: do decano da Casa, Miro Teixeira (Rede-RJ), a pemedebistas da ala independente do partido, como o pernambucano Jarbas Vasconcelos. Tudo pouco provável.
A disputa pela presidência da Câmara diz respeito a nomes mas também a partidos e blocos. Nenhuma das duas maiores bancadas da Casa pertence às três maiores estruturas partidárias do país: PMDB, PSDB e PT. Pela centralização do processo decisório, a fragmentação eleitoral ensejou a própria necessidade de reaglutinação parlamentar. Mas também é improvável que o sucessor de Cunha saia dentre os 83 deputados do bloco PP-PTB-PSC-PHS ou dos 78 do PR-PSD-Pros.
É o PMDB o partido central, o que carrega as maiores probabilidades. Já ocupou a presidência da Câmara em quase 55% do tempo desde a redemocratização. Na legenda, a seção mais forte é a do Rio, mesmo Estado de Eduardo Cunha. O mesmo do líder da bancada, Leonardo Picciani. O mesmo do deputado licenciado e recém-nomeado ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera. Elegeu oito (12%) dos 66 deputados da sigla em 2014.
É de onde vem, por enquanto, o movimento mais consolidado de uma pré-candidatura à presidência da Câmara. As notícias que dão conta da articulação de Leonardo Picciani e de seu pai - o cacique do PMDB no Rio Jorge Picciani - à sucessão de Cunha procedem. O projeto está em curso e busca o apoio do governo federal que, por sua vez, procura recobrar a segunda perna de sustentação no Congresso, quebrada com a eleição de Cunha, em fevereiro, e o anúncio de rompimento, em julho.
A desidratação do presidente da Câmara com as revelações da Operação Lava-Jato coincide, desde então, com o avanço das peças do clã Picciani no tabuleiro político regional e nacional. Cunha abriu caminho, ocupou espaço gigante, individualmente. Na sua queda, a família Picciani vê oportunidades de se beneficiar, sob a justificativa de que as demandas são coletivas, partidárias. Na reforma ministerial, há um mês, emplacou Pansera e ganhou influência na Saúde. Agora, Jorge Picciani repete mais uma viagem a Brasília, para encontro com Dilma Rousseff e auxiliares da presidente. É mais um movimento que deixa claro sua proximidade com o Planalto, um ano depois de liderar dissidência no PMDB do Rio e pedir voto para Aécio Neves.
Com a ajuda do governo federal, Picciani busca superar pelo menos três dificuldades - todas relacionadas - para pavimentar o caminho do filho à presidência da Câmara: idade, experiência e capacidade de resistir à pressão.
Leonardo completa nesta sexta-feira 36 anos - os quais já foram bem comemorados ao longo da semana, em convescotes políticos que irritaram Eduardo Cunha por incensar o possível sucessor. O clima entre os dois - antes tão afinados - se deteriora. Mas o fato é que, com tão pouca idade, Leonardo encontra-se distante do parlamentar médio da Câmara, que tem 51 anos. É 15 anos mais novo. No período recente, os mais jovens deputados a se tornarem presidentes da Câmara foram Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), em 1995, aos 39 anos, e Aécio Neves (PSDB-MG), em 2001, aos 40 - ambos descendentes de caciques políticos, como Leonardo.
A filiação natural e a partidária ajudam. Com a juventude, porém, vem a relativa falta de experiência de vida e política - ainda que o pemedebista já esteja em seu quarto mandato e tenha ocupado posições de destaque na Câmara. Em 2007, aos 27 anos, foi eleito o mais jovem presidente da Comissão de Constituição e Justiça.
Com a relativa falta de experiência, vem a dificuldade de resistir a pressões. Exemplo recente foi quando, há duas semanas, cedeu aos apelos de aliados de Eduardo Cunha para prestigiá-lo, quando o presidente da Câmara teve sua foto incluída na galeria de ex-líderes do PMDB. Momentos antes da homenagem, Cunha foi hostilizado por manifestantes em protesto organizado por deputados, com ampla repercussão na mídia. A proximidade com o governo federal requer a contraparte de afastamento em relação a Cunha. Um movimento que o pai já vem fazendo desde o começo do ano.
Político de bastidores, Jorge Picciani tenta assegurar para Leonardo, filho mais velho, e Rafael, o mais novo, de 29 anos - secretário municipal de Transportes, na capital - espaços de poder importantes. À presidência da Câmara junta-se a pretensão sobre a Prefeitura do Rio. Se a primeira procura ocupar o vácuo de Cunha, a segunda pode se beneficiar da divulgação de episódio com potencial de abalar a imagem do deputado licenciado e secretário municipal Pedro Paulo, pré-candidato do prefeito Eduardo Paes.
Em 2010, Pedro Paulo agrediu sua então mulher, Alexandra Marcondes Teixeira, quando discutiam sobre uma suposta traição. Em depoimento à polícia, Alexandra disse que recebeu socos, chutes e empurrões de Pedro Paulo, após voltar antecipadamente de uma viagem e encontrar no apartamento evidências de que ele havia estado com outra pessoa. Alexandra pediu o divórcio e em seguida, durante a briga, Pedro Paulo quebrou-lhe um dente, conforme consta em laudo do exame de corpo de delito no IML.
O caso aconteceu há mais de cinco anos, mas só agora veio à tona na imprensa, o que levanta suspeitas, no grupo de Paes, de uso político do episódio. O prefeito já havia acertado com Jorge Picciani que Rafael seria o vice de Pedro Paulo.
Mas o abalo na imagem do braço-direito de Paes está sendo monitorado e pode mudar os rumos na candidatura do PMDB. Nesta situação, a família Picciani se apresenta para ocupar a cabeça de chapa.
Afinal, no PMDB do Rio tão cheio de caciques, a possibilidade de Paes eleger o sucessor na capital e, eventualmente, ainda vencer o governo estadual, em 2018, não é exatamente bem-vinda.
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