Por André Guilherme e Graziella Valenti – Valor Econômico
SÃO PAULO - José Zunga Alves de Lima, diretor da Oi e sindicalista ligado ao PT, é alvo da Operação Lava-Jato por suspeita de tráfico de influência em 2013, no governo federal, para atender a interesses da Andrade Gutierrez e da Odebrecht, envolvidas no escândalo da Petrobras. A Andrade esteve no bloco de controle da Oi desde a privatização do sistema Telebrás, em 1998, até setembro deste ano. Em investigação sigilosa, Zunga é descrito como um contato "com trânsito no alto escalão do governo". Em 2008, ele foi indicado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva como conselheiro consultivo da Anatel. Relatório de inteligência mostra o avanço das investigações sobre o que a PF considera a influência de grandes grupos empresariais na política nacional.
Diretor da Oi ligado ao PT vira alvo da Lava-Jato
O diretor da Oi e ex-sindicalista ligado ao PT, José Zunga Alves de Lima, é alvo da Operação Lava-Jato por suspeita de atuar no governo federal para atender a interesses da Andrade Gutierrez e da Odebrecht - empreiteiras investigadas por suspeitas de formação de cartel e corrupção na Petrobras.
Em investigação sigilosa da Polícia Federal (PF), Zunga é descrito como um contato "com trânsito no alto escalão do governo federal".
A PF afirma que "além de diversos contatos com autoridades em nome da Andrade Gutierrez, as quais podem ter sido beneficiadas por repasses ilícitos, dissimulados ou travestidos de doações eleitorais, chama a atenção a intermediação do contato entre Zunga e Benedicto Júnior [presidente da Odebrecht Infraestrutura]", buscando o último resolver um problema relacionado ao Consórcio Mobilidade Bahia".
Zunga é próximo do ex-presidente Lula, que o indicou ao conselho consultivo da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em 2008, como representante da sociedade civil. Em 2010, a Justiça Federal o afastou do conselho por ocupar cargo na Oi.
Segundo a PF, Zunga prestou assessoria à GameCorp, empresa de jogos do filho de Lula, Fábio Luis, o "Lulinha", que recebeu investimento da Oi em 2005.
A Andrade Gutierrez esteve no bloco de controle da Oi, antiga Telemar, desde a privatização do sistema Telebrás (em 1998) até setembro de 2015, quando a tele encerrou longo processo de reestruturação com a dispersão de seu controle acionário - mas ainda é acionista da operadora.
O mesmo relatório menciona também Benedicto Barbosa da Silva Júnior, presidente da Odebrecht Infraestrutura. Segundo a PF, ele procurou contatar José Zunga em busca de auxílio para um "problema" relacionado a uma obra em São Paulo, pelo fato de a Andrade Gutierrez ter enfrentado dificuldade semelhante em empreendimento em Salvador - projeto do Consórcio Mobilidade Bahia, para construção de linha de metrô na capital baiana.
O consórcio é operado pela Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), empresa de mobilidade urbana que tem Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa em seu bloco de controle, com 20% das ações cada uma. Ao Valor, Zunga negou conhecer ou sequer ter falado com Benedicto da Silva Júnior: "Não conheço ninguém da Odebrecht", disse.
"Na Bahia? Não tenho nada a ver. Não tenho nenhuma ação lá, não interajo com governo. Não atuo em metrô. Sou muito pequenininho para ter envolvimento em negócio desse tamanho. Isso está distante do meu radar de ação, do meu mundo, do meu conhecimento, muito, muito distante."
Zunga fez carreira no sindicalismo no setor de telefonia. Hoje na Oi, o também ex-dirigente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Distrito Federal é originário da Brasil Telecom (BrT), adquirida em 2008.
Consultada, a Oi "informa que o senhor José Zunga está contratado para prestar exclusivamente serviços para o negócio da companhia e desconhece qualquer atuação para terceiros". A nota informa que "a companhia questionou o senhor Zunga pelo fato relatado, o qual ele negou peremptoriamente". Segundo o comunicado, "a Oi desconhece qualquer investigação que relacione o senhor Zunga a qualquer irregularidade. Caso haja confirmação, investigação e eventual comprovação dos fatos relatados, a companhia tomará as providências cabíveis", diz.
A BrT foi uma concessionária com atuação no Centro-Oeste e Sul do país. Era controlada por um consórcio integrado pelos fundos de pensão de empresas estatais Petros (Petrobras), Previ (Banco do Brasil) e Funcef (Caixa Econômica Federal), além do banco Opportunity (do empresário Daniel Dantas), do Citibank e da Telecom Itália. Ficou conhecida por protagonizar uma das maiores disputas corporativas do país entre seus acionistas. A aquisição da empresa pela Oi em 2008 demandou alterações na Lei Geral de Telecomunicações (LGT).
O relatório de inteligência policial mostra o avanço das investigações sobre o que a PF considera "a influência de grandes grupos empresariais na política nacional". Há destaque para o fato de as empreiteiras, segundo a PF, terem supostamente redigido memoriais ao então presidente Lula "para que este não esquecesse nenhum detalhe do que deveria ser falado a outras autoridades na defesa dos interesses da Odebrecht". Não fica claro, no documento, se isso ocorreu durante o segundo mandato de Lula ou depois de ele ter deixado o Palácio do Planalto.
Na apuração da PF sobre a suposta atuação de Zunga no governo federal, em 2013, os investigadores relatam a descoberta de outros elos entre as empresas investigadas e agentes públicos.
Entre os suspeitos está ainda Michel Sarkis, ex-executivo da Contax, empresa de teleatendimento que nasceu dentro da Oi. Hoje a empresa de telefonia não possui mais vínculo societário com a Contax - ainda controlada pela Andrade Gutierrez. A reportagem não localizou Sarkis.
Ele foi executivo da Contax de 2000 a 2012, chegando a ocupar a presidência da companhia. Sarkis é classificado como "possivelmente um operador", inclusive por meio da Contax, sustenta a PF. Procurada, Contax disse que não comentaria o caso.
A Lava-Jato observa que, apesar de ligados a empresas distintas, José Zunga e Benedicto da Silva Júnior atuavam no mesmo segmento. A PF diz que ambos trabalharam juntos "comprovadamente" em ao menos uma oportunidade. A conclusão é que eles agiam para auxiliar os dirigentes da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, e da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, "na realização dos seus projetos políticos-econômicos".
A Andrade disse que não comenta processos em andamento. A Odebrecht não respondeu até o fechamento desta edição. O Instituto Lula disse que não iria comentar "o vazamento de um suposto documento".
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