sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Centrais sindicais vão se reunir para discutir propostas para enfrentar a crise econômica

Por Renata Batista e Robson Sales – Valor Econômico

RIO - As seis centrais sindicais reconhecidas, incluindo Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Força Sindical, realizarão plenária conjunta na segunda-feira para discutir uma proposta de saída para a crise econômica. É a primeira vez que isso acontece e, de acordo com Clemente Ganz Lúcio, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a principal preocupação é o impacto da Operação Lava-Jato sobre empresas e emprego.

Segundo o economista, ainda "falta institucionalidade "aos órgãos envolvidos nas investigações de corrupção no Brasil para lidar com instrumentos como os acordos de leniência, o que coloca em risco mais empregos. Por isso, embora haja preocupação com a situação de toda a indústria, as centrais devem dar prioridade aos setores de petróleo e gás, naval e construção civil.

"A ideia é atuar em duas frentes: na mobilização dos trabalhadores e na construção de acordos com o empresariado. A percepção das centrais é que não temos chances se não construirmos uma aliança mais ampla", disse Ganz Lúcio, que participou de debate sobre novas e velhas políticas industriais e de inovação, durante o seminário Desenvolvimento Produtivo e Inovativo, promovido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Para o economista, o movimento sindical errou nos últimos anos ao não colocar na pauta de discussão com o governo e o empresariado a necessidade de uma política industrial que permitisse ao país ingressar na nova fase da indústria, marcada pela inovação. Empresários e trabalhadores se acostumaram, segundo ele, a buscar soluções junto ao governo. "Uma estratégia de desenvolvimento industrial não pode ser a soma das nossas demandas corporativas e empresariais", disse.

"Esperamos que essa possibilidade de aliança possa encontrar no governo ambiente para construir uma política. Precisamos avançar na cultura política de pactuação e construção de acordos. Há resistência no setor sindical, mas a maior resistência ainda é no setor patronal", afirmou Ganz Lúcio.

Outros participantes do seminário manifestaram preocupação com os efeitos da Lava-Jato sobre a política industrial. O economista José Eduardo Cassiolato, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), criticou o que chamou de "criminalização" do esforço de internacionalização de empresas brasileiras.

David Kupfer, também economista da UFRJ, avalia que falta legitimidade, no atual momento do país, para que o setor industrial tenha qualquer tipo de ativismo. "Estamos em um momento muito difícil, com uma política macro hostil e uma política industrial inexistente. A política industrial brasileira está destroçada. Nenhuma decisão é capaz de se legitimar", disse.

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