- O Estado de S. Paulo
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, faz das tripas coração para ganhar tempo e se safar no Conselho de Ética, por saber que, se perder no conselho, vai ser quase que naturalmente cassado pelo plenário. Para ele, é agora ou nunca.
A prioridade é lutar no conselho, mas Cunha tem o plano B: perdido por um, perdido por mil. E já definiu que, se perder nessa primeira fase, seu derradeiro ato antes de ser cassado será abrir o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Neste caso, quem comandará todo o processo contra Dilma será o sucessor de Cunha na presidência da Câmara.
Segundo o regimento da Câmara, artigo 8.º, parágrafo 2.º, se Cunha sair até 30 de novembro de 2016, por cassação, renúncia, etc., haverá nova eleição para sua sucessão num prazo de cinco sessões. Cá entre nós, há um bocado de gente se assanhando. Rei morto, rei posto. Cunha está vivo, mas morto. E está morto, mas vivo.
Pelo lado do governo, afunilam-se as articulações pró-Leonardo Picciani, o líder do PMDB que faz qualquer coisa não só para aparecer como para cair – e ficar – nas graças do governo. Ele já se reuniu com Dilma, pediu a bênção do vice Michel Temer e cabala votos. Que aguente o tranco, porque Cunha não é brincadeira.
Pelo lado da oposição, falou-se muito em Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Miro Teixeira (Rede-RJ), mas eles precisavam ser um pouco menos, ou muito menos, excelentes. Vai ficar no sonho... Por isso, a oposição tenta ser pragmática e parte do princípio de só se elege presidente quem tiver apoio dos bispos e simpatia do “baixo clero”. É aí que entra um nome novinho em folha, o de Heráclito Fortes (PSB-PI), camarada cheio de amigos e de um partido que não fecha às cegas com o PT nem com o PSDB.
Essas articulações partem do pressuposto de que, além de cair pela força da Procuradoria-Geral da República e do Supremo Tribunal Federal, Eduardo Cunha vai ruir na própria Câmara, que ele considerava na palma da sua mão. Tanto não considera mais que, de desafiador e arrogante, passou a circular com ar cansado e abatido pelos salões e corredores, onde uma chuva de dólares falsos, com a sua cara, desabou na sua cabeça nesta semana.
Se cair, Cunha não quer cair sozinho. Se a fase mais aguda do impeachment parece ter passado, as frentes contra Dilma continuam bastante preocupantes. Ninguém cai por incompetência, mas os dados desoladores, dia após dia, potencializam as pedaladas fiscais, as suspeitas sobre a campanha dela em 2014 e as manobras perigosas do PT.
Não bastasse, vem agora a decisão do TCU de apurar a responsabilidade do Conselho de Administração da Petrobrás sobre operações ruinosas em quatro refinarias. Leia-se: de Dilma Rousseff, que presidiu o conselho durante os anos Lula. É mais uma pressão, mais uma ameaça direta contra ela.
Num momento assim, Dilma precisaria mais do que nunca de um Lula forte. Mas Lula não está forte e tem de se desdobrar em mil para tourear o próprio Cunha, dissimular o mau humor com a pupila Dilma, conter as CPIs e mexer seus pauzinhos para livrar a cara do filho caçula, Luis Cláudio Lula da Silva, metido com empresas para lá de suspeitas, passando pelo vexame de busca e apreensão em suas empresas e obrigado a depor durante horas na Polícia Federal.
Temos, então, o trio Cunha, Dilma e Lula debatendo-se para se manter à tona, sob forte risco de afundar junto, num típico abraço de afogados. Pode apostar: num determinado momento, isso vira um salve-se quem puder, ou cada um por si e o resto que se dane.
Aí tem. A juíza Célia Regina Ody Bernardes foi quem autorizou a batida policial na LFT e o depoimento do filho de Lula. Já o juiz titular Vallisney de Souza é aquele que livrou Erenice Guerra de poucas e boas. A troca de uma pelo outro foi pura coincidência?
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