- Folha de S. Paulo
No país da Lava Jato, Michel Temer precisará fazer um governo a jato. Normalmente, um presidente que assume o cargo goza de um período de graça de cerca de três meses —100 dias na tradição inaugurada por Franklin Roosevelt— em que pode contar com a boa vontade do Legislativo, da oposição e da imprensa. Depois disso, as cobranças vão ficando mais pesadas.
O governo Temer, porém, tem muito pouco de normal. Sua janela de oportunidade é muito mais curta. Para começo de conversa, o novo presidente assume sem respaldo popular. Chega ao posto porque foi escolhido por um único grande eleitor, Dilma Rousseff, que o tomou como companheiro de chapa. Pode-se até argumentar jocosamente que este foi mais um dos crimes de responsabilidade da presidente afastada.
No mais, o mandato de Temer não é de quatro anos, mas de dois e meio, se não for abreviado. E ele não poderá contar com uma trégua da oposição. Ao contrário, terá de enfrentar um PT mordido, que fará tudo o que puder para atrapalhar seu governo.
A situação econômica também está longe da normalidade. O afastamento de Dilma, ao desatar o nó político que frustrava a adoção de medidas anticrise, melhora as expectativas, mas a reversão terá fôlego curto se não for acompanhada de ações concretas. Temer tem de sinalizar que o problema fiscal do Estado será resolvido, o que exige cortes de gastos e elevação de impostos, medidas impopulares não muito compatíveis com um governo formado principalmente por parlamentares populistas.
Os temores de que a gestão Temer desponta com uma face assustadoramente conservadora são fundados, mas devem ser relativizados pela lembrança de que 7 dos 22 ministros do novo presidente (32%) ocuparam pastas sob administrações do PT e outros cinco (23%) foram aliados de Lula-Dilma. Isso talvez não diga muito sobre o governo Temer, mas diz bastante sobre as gestões do PT.
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