Por Ricardo Mendonça – Valor Econômico
SÃO PAULO - O primeiro sinal eleitoral da crise enfrentada pelo PT apareceu ontem na planilha geral de registro de candidaturas organizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Este ano o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente afastada, Dilma Rousseff, lançou 23.599 candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador, uma queda de 47,2% em relação ao total de postulantes petistas em 2012, ano da última eleição municipal.
Entre as agremiações grandes, médias e pequenas, nenhuma caiu tanto nesse quesito. Apenas o nanico PCB (Partido Comunista do Brasil) apresenta um número proporcionalmente mais expressivo, com queda de 57%. O PTB, terceira maior redução, caiu 17%. O arquirrival PSDB caiu 6,6%.
Outra forma de medir o encolhimento do PT é pelo ranking de candidatos a prefeito. Quatro anos atrás -antes da Operação Lava-Jato e enquanto Dilma batia recordes de popularidade-, a sigla era a segunda com o maior número de candidatos no país, atrás apenas do PMDB. Disputava o comando de 1.901 municípios com nomes próprios. Agora, os petistas são cabeças de chapa em 992 localidades (-47,8%), o que coloca a legenda na sexta posição do ranking, atrás de PMDB, PSDB, PSD, PP e PSB (confira no gráfico).
No sentido oposto, dois partidos médios apresentam notável aumento no número de candidatos a prefeito. O PSD, que passou de 1.170 postulantes em 2012 para 1.346, crescimento de 15%, e o PRB, sigla ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, que pulou de 320 para 426, avanço de 33,1%. O PRB tem candidatos competitivos nas duas principais capitais do país. Em São Paulo, com o deputado federal Celso Russomanno, líder nas pesquisas, e no Rio, com o senador Marcelo Crivella.
Cinco partidos que não existiam em 2012 (Pros, PEN, Rede, PMB e Novo) irão participar desta eleição com 29.290 candidatos a prefeito, vereador e vice. Liderada pela ex-ministra Marina Silva, que concorreu à Presidência em 2010 e 2014, a Rede estreia com 153 nomes para prefeito.
Ainda assim, o número total de concorrentes em todo o país deve ficar bem abaixo dos 530 mil a 580 mil estimados dias atrás pelo presidente do TSE, Gilmar Mendes. Com os registros computados de 95% dos municípios, são 485.889 candidatos, um aumento de apenas 0,4% em relação a 2012 (além dos dados das pequenas cidades que ainda serão computados, os números deste ano podem mudar por eventuais substituições).
Os dados do TSE mostram também que, na contramão dos esforços institucionais, a participação das mulheres caiu em relação à última disputa. Neste ano, serão 2.039 candidatas a prefeita em todo o país ante 2.166 na eleição passada, uma redução de 0,7%. Nas disputas por vaga nas Câmara Municipais, a queda foi de 0,4%.
Em 3.581 municípios (quase 70% do total já computado) não há mulher na disputa pela prefeitura. Com cinco candidatas inscritas, Belém desponta como a cidade com o maior número de mulheres postulantes à prefeitura.
Uma novidade das estatísticas do TSE neste ano é a autodeclaração da cor do candidato.
Na conta que leva em consideração todos os cargos em disputa, 51,5% dos candidatos são brancos. Pardos somam 39,1%. Pretos, 8,7%. Há ainda 0,4% de amarelos e 0,3% de indígenas.
Há uma notável diferença, porém, quando são levados em consideração apenas os candidatos a prefeito, cargo hierarquicamemte mais importante. Nesse grupo, a taxa de brancos é de 66,4%. Pardos representam 29,6%; pretos, apenas 3,2%.
Algo parecido ocorre em relação à escolaridade dos postulantes. O maior grupo é formado por candidatos com ensino médio completo, que somam 37,4% dos inscritos. Candidatos com ensino superior completo são 21,1%. Levando-se em consideração apenas os postulantes ao cargo de prefeito, 51,8% têm ensino superior completo.
Os problemas educacionais do país também aparecem de forma explícita nos registros de candidatura. Em todo o país, mais de 155 mil candidatos não conseguiram sequer chegar ao ensino médio. Nesse grupo, mais de 66 mil têm fundamental completo, 75 mil têm o fundamental incompleto, e 13.772 declararam que apenas sabem ler e escrever, sem nenhum grau de educação formal.
Ao fazer o pedido de registro para a disputa, os candidatos também são obrigados a apontar sua profissão original.
Neste ano, a ocupação mais apontada foi a de agricultor, com 34.999 candidatos. Servidores municipais aparecem na sequência, com 31.757 nomes inscritos na eleição. Em terceiro estão os comerciantes, com 31.362 representantes na disputa.
Em relação a 2012, chama a atenção o crescimento do número de empresários candidatos, que passou de 20.829 para 25.275, um aumento de 25,5%.
Nenhum comentário:
Postar um comentário