• Candidato à reeleição, prefeito de São Paulo vê sua candidatura naufragar em ritmo semelhante ao de seu partido
Sérgio Roxo - O Globo
Ser ou não ser petista. Esse é o dilema que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, vive em sua tentativa de reeleição. Com medo de ser contaminado pelo desgaste da legenda, reduziu o tamanho da estrela símbolo do partido e tirou a palavra PT do seu material de propaganda. Ao mesmo tempo, bate no peito para dizer que está há 30 anos no mesmo partido e que deve seu mandato à militância petista.
O padrinho político e principal cabo eleitoral de 2012, o ex-presidente Lula, também até agora não apareceu no horário eleitoral. A estratégia, por enquanto, não rendeu dividendos eleitorais. Passados mais de 35 dias de campanha, Haddad apenas oscilou nas pesquisas de intenção de voto (hoje tem 10% no Datafolha). E o que é pior não conseguiu se conectar com o eleitorado simpatizante do partido.
A pesquisa Datafolha divulgada na última quinta-feira mostrou que apenas 30% das pessoas que se dizem simpatizantes do PT declaram voto no atual prefeito. De acordo com o levantamento, os petistas são hoje 10% dos eleitores da cidades. Haddad também sofre para convencer a população da periferia a apoiar a sua campanha. A mesma pesquisa indicou que o índice de intenção de voto no petista no extremo da Zona Leste, uma região que foi fiel ao PT nas eleições paulistanas desde 2000, é de apenas 5%. Para se ter uma ideia, em 2012, Haddad teve 46% dos votos válidos no primeiro turno em Cidade Tiradentes, uma das zonas eleitorais que fazem parte do extremo leste.
Lideranças petistas de São Paulo avaliam que a falta de identificação de Haddad com o eleitorado petista não começou agora na campanha e sim durante a gestão.
— Tem uma identificação muito pequena da administração com esse eleitorado. Esse é o problema, porque é uma administração boa — afirma o o deputado federal Carlos Zarattini, para quem as causas desse problema só devem ser discutidas depois da eleição.
— Agora, temos que resolver os problemas.
O prefeito é acusado por parte de seus colegas de partido de ter concentrado as principais ações de sua gestão nos bairros centrais. São citadas como exemplo a implantação da ciclovia e a redução da velocidade na marginal.
— As polêmicas foram essas. E a imagem de uma gestão é construída muito em cima das polêmicas. Ele não tem marcas na periferia, apesar de ter realizações — avalia um petista.
Por meses, Haddad foi atacado também de fazer poucas visitas aos bairros mais afastados do centro.
— Quando começou a ir, fez agendas em que ele ficava muito blindado. Não tinha contato com o povo. Não soube estabelecer esse vínculo — acrescenta um petista.
O cientista político Carlos Melo, professor do Insper, avalia que a ex-petista Marta Suplicy (PMDB) atrapalha o candidato do PT.
— O mínimo que se poderia esperar era que o Haddad iria encostar no eleitorado tradicional do PT.
Haddad alega que fez obras na periferia, com a construção de um hospital na Zona Sul que deve ficar pronto até dezembro, mas que isso não foi destacado pela imprensa. Reconhece ter errado na comunicação e diz que, em tempos de crise econômica, cortou os gastos em publicidade.
Na propaganda de televisão, também mudou as suas estratégias. Começou tratando apenas de temas locais e nas últimas duas semanas decidiu nacionalizar a campanha.
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