- Folha de S. Paulo
Que os partidos políticos tradicionais estão há anos sofrendo fortíssimo desgaste no mundo todo não chega a ser novidade.
O Brasil, como é natural, não poderia escapar a esse fenômeno. O mais recente indício apareceu sexta-feira (28) na coluna da sempre excelente Mônica Bergamo, que mostra só duas instituições com menos prestígio que a Presidência da República: são exatamente os partidos políticos (só 7% dos pesquisados pela Escola de Direito da FGV-SP confiam neles) e o Congresso Nacional (com apenas poucos mais, 10%), que é a casa dos políticos.
O problema é que, se os velhos partidos estão em decadência, os novos tampouco parecem firmar-se como alternativas, ao contrário do que parecia possível não faz tanto tempo assim.
O caso talvez mais emblemático é o do Syriza (Coligação da Esquerda Radical), que governa a Grécia desde o ano passado.
O novo grupo ascendeu exatamente pelo fracasso dos partidos tradicionais, a conservadora Nova Democracia e o tradicional Partido Socialista Pan-Helênico. Ambos foram responsáveis por enfiar a Grécia em uma situação econômico-financeira insustentável e ambos tentaram sair dela com políticas de austeridade que provocaram uma formidável derrocada social.
O Syriza foi eleito para sair do beco, mas está fracassando aos olhos dos que nele votaram: o jornal Avgí, órgão do partido, acaba de publicar pesquisa que mostra que 90% dos gregos estão insatisfeitos com o governo e que 85% acreditam que o país está no caminho errado.
Outro exemplo é o Podemos da Espanha. Surgiu de baixo para cima, a partir do movimento dos indignados (indignados com a política de austeridade dos partidos tradicionais, a exemplo do que ocorrera na Grécia).
O que conseguiu até agora, no entanto, foi apenas romper o tradicional bipartidismo de fato na Espanha, governada nos últimos 40 anos ou pelos conservadores do Partido Popular ou pelo Partido Socialista Operário Espanhol (a bem da verdade, Socialista e Operário, nesse rótulo, são apenas relíquias do passado).
Nem mesmo se aliando com o PSOE, ao qual pretende substituir como voz da esquerda, o Podemos chegaria ao poder pelo voto, como ficou claro nas duas eleições recentes na Espanha.
Além disso, já está aberta a luta pelo controle do partido entre seu líder Pablo Iglesias e seu vice, Íñigo Erejón, disputa dessas tradicionais na esquerda, que, segundo a sabedoria convencional, só se une na cadeia.
A crise dos partidos vai além deles, como aponta Antonio Navalón, colunista de "El País":
"Estamos ante a crise generalizada do sistema de representação porque a incapacidade do modelo democrático está produzindo
um enorme vazio de poder".
No Brasil, o vazio é representado pelo aumento da abstenção, dos votos brancos e nulos, fenômeno que virou até tema de campanha.
Parte da crise é causada pelo fato de que a democracia está sendo sequestrada pelo poder econômico.
Os programas partidários têm que ser abençoados pelos mercados para poderem ser implementados.
A rua sente que seu voto conta pouco.
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