Poucas eleições municipais estiveram tão contaminadas por temas da política nacional quanto esta. Realizadas na sequência do segundo impeachment de presidente da história republicana, foi uma consequência natural que candidatos incluíssem no discurso referências à crise política em Brasília. No Rio, Jandira Feghali (PCdoB), apoiada pelo PT, desfilou de braço dado à cassada Dilma e ainda levou Lula, réu em dois processos, para cima do palanque. Pesquisas indicaram que foi mau estratagema — um indicativo de que o PT não terá um domingo risonho, nem uma segunda-feira relaxada. No debate da GLOBO, de quinta para sexta, em que Pedro Paulo (PMDB), Freixo (PSOL), Feghali e Osório (PSDB), principalmente, digladiaram na disputa para saber quem irá a um provável segundo turno contra Crivella (PRB), este aspecto da nacionalização da campanha apareceu. Mas a temática municipal se impõe.
Algumas prefeituras mais, outras menos, todas carregam efeitos da crise fiscal. O Rio, porém, é um caso próprio, até por ter sediado a Olimpíada, um projeto executado em grande ponto de atração de cariocas e visitantes. O empreendimento não tem paralelo, a não ser em governos como o de Carlos Lacerda. Bem como a ampliação do sistema de transporte de massa, por meio dos BRTS integrados ao metrô, este de responsabilidade do governo do estado. Há, então, à espera do próximo prefeito, um grande patrimônio — não apenas acumulado no governo de Eduardo Paes. Mas também muitos problemas. E muito a fazer, em cooperação com estado e União, devido a limites legais, mas também dado o tamanho da cidade, a segunda do país, e o entrelaçamento histórico que há no Rio entre as diversas esferas administrativas, característica de quem foi sede do Império português e capital federal. É preciso cuidado com promessas ilusórias, populistas. O Rio, desde 2014, viveu grandes momentos: Copa do Mundo, Olimpíada, Paralimpíada.
Mas está aí a favelização, estacionada ou revertida de forma mínima em algumas regiões, mas em expansão para onde erros de urbanismo induziram a cidade a crescer, a Zona Oeste (gráficos acima). Daí também o atraso na infraestrutura de transporte e saneamento na região. O problema no saneamento ainda foi agravado pela incompetência da Cedae, controlada pelo governo do estado. Prova é a regressão no tratamento de esgoto na cidade de 2012 a 2014 (79,6% para 71,3%). A prefeitura conseguiu, em acordo com o estado, licitar grande parte da Zona Oeste, para que capitais privados pudessem distribuir água, captar e tratar esgoto. Os índices de cobertura começaram, então, a subir.
Será incontornável retrocesso se o novo prefeito, por viés político e ideológico, não seguir nesta rota. O mesmo vale para a área de Saúde, em que há o saldo positivo do programa Saúde da Família. Avançou-se, ainda, na contratação de Organizações Sociais para gerenciar unidades de atendimento, sem as amarras e ineficiências do funcionalismo público estável. Há casos de desvios. Então, que sejam esmiuçados e os responsáveis, punidos. Mas nada justifica voltar ao passado nos métodos de administração.
Nas urnas de hoje há, portanto, escolhas importantes a serem feitas pelo eleitor carioca. E é preciso que decida seu voto preocupado com a cidade, deixando de lado pendores ideológicos.
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