- O Estado de S.Paulo
O clima na Câmara e no Palácio do Planalto nesta quarta-feira, 25, não era de comemoração nem mesmo de alívio. A vitória apertada na votação da segunda denúncia contra Michel Temer foi mais apertada do que na primeira, e a intercorrência médica pela qual passou o presidente mostra um homem – além do político – fragilizado.
Nas conversas com ministros, líderes e assessores a apreensão era o tom que se sobressaía às tentativas de minimizar a internação de emergência do presidente e a constatação de que o placar dificilmente chegaria aos 263 votos de agosto. Foi pior ainda: Temer não obteve apoio de 257 deputados, o que configuraria a maioria da Casa.
A crônica da vitória não celebrada começa pelo PSDB: o partido se manteve no muro, mas colocou um pé a mais no lado de oposição ao presidente. São Paulo de Alckmin e Doria só deu um voto pelo arquivamento da denúncia, como da primeira vez. E na Bahia do ministro Antonio Imbassahy os outros dois tucanos votaram pelo prosseguimento do processo.
Fora o mico: bastou que Ricardo Tripoli (SP) dissesse que o parecer não deveria ser considerado do PSDB para que praticamente todos os deputados que se seguiram a ele – contrários ou favoráveis a Temer – fizessem questão de dizer “voto contra/a favor do relatório do PSDB”. Eis o preço de uma legenda não ter espinha vertebral nem coerência, para que lado seja.
Minas Gerais, Estado de Aécio Neves e do relator Bonifácio de Andrada, deu uma votação massiva a favor do presidente. Foi o único Estado em que prevaleceu, ainda, a influência minguante do presidente licenciado do PSDB, que na semana passada recebeu ajuda do Planalto para se manter no exercício do mandato.
A despeito dessas ilhas de apoio ao Palácio do Planalto, a desobstrução fisiológica de canal a que se submeteu Temer não encontra um equivalente político.
Para o governo, os caminhos seguem interrompidos, e sua abertura dependerá da reconstrução da base de sustentação, alimentada nas últimas semanas com concessões generosas que não resultaram numa vitória expressiva. O mais significativo recuo foi quanto à privatização de Congonhas, joia da Coroa do pacote de privatizações empenhada no prego da fisiologia.
Neste momento, não há entusiasmo para o pouco mais de um ano que o presidente tem pela frente. Muito menos por sua agenda calcada na necessidade de cumprir a meta fiscal e pela tentativa de fazer alguma reforma na Previdência.
Se esta sair, será uma versão desidratada e dependerá da mediação de Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente da Câmara cujo comportamento pendular nas últimas semanas o leva a sair fortalecido novamente.
Não bastasse ter de se ajoelhar até o fim do mandato no altar da negociação com Maia e o Congresso, Temer não poderá dormir tranquilo enquanto aliados da vida toda estiverem presos e tentados a fazer delação premiada.
Será necessário monitorar o pulso de Geddel Vieira Lima, Rodrigo Rocha Loures, Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves até a reta final do mandato. Vem aí uma convalescença política prolongada para Temer.
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