- Folha de S. Paulo
Relatório da Desigualdade Global, da Escola de Economia de Paris sustenta que o 1% super-rico no Brasil captura 28,3% dos rendimentos brutos totais
A Pesquisa de Orçamento Familiar 2017-2018 joga luz somente sobre um lado da questão da concentração de renda brasileira.
Realizada por mil agentes de que visitaram 75 mil lares em 1.900 municípios, ela difere de outros levantamentos que levam em conta também declarações de imposto de renda e outros rendimentos financeiros, e que trazem à luz ganhos muitas vezes não declarados em entrevistas domiciliares.
Na POF, 2,7% das famílias concentram 19,9% da renda. Já o Relatório da Desigualdade Global, da Escola de Economia de Paris (que combina pesquisas domiciliares, contas nacionais e declarações de IR), sustenta que o 1% “super-rico” no Brasil captura 28,3% dos rendimentos brutos totais.
Assim, o Brasil seria o país com maior concentração de renda no 1%, atrás somente do Qatar, minúsculo emirado absolutista governado pela mesma família desde o século 19.
A mais recente crise econômica do país só piorou o quadro, provocando um aumento da desigualdade de renda por mais de quatro anos consecutivos. No período, os mais pobres não só foram os mais afetados pelo desemprego como perderam mais rendimentos.
Segundo dados do FGV Social, entre o fim de 2014 e junho deste ano, a renda per capita do trabalho dos 50% mais pobres no país despencou 17,1% enquanto a dos 10% mais ricos subiu 2,5% em termos reais (acima da inflação). Já o 1% mais rico foi quem mais ganhou: 10,1%.
Mas a nova POF traz outro dado interessante a respeito da dinâmica do desenvolvimento e da concentração de renda no Brasil.
Segundo o levantamento, o maior valor médio recebido pelas famílias pesquisadas foi encontrado no Centro-Oeste (R$ 6.772,86), correspondente a 125% da média nacional e maior até do que os rendimentos no Sudeste (R$ 6.391,29).
O Centro-Oeste não só é a região menos populosa do país, com cerca de 7,6% dos brasileiros, como é mais dinâmica do agronegócio, atividade que tende a concentrar cada vez mais a renda ao se aperfeiçoar com a mecanização.
Outro dado da pesquisa revela como a questão da tributação regressiva contribui para a desigualdade ao impor uma carga tributária proporcionalmente mais pesada sobre os mais pobres via consumo, sobretudo na alimentação.
Enquanto as famílias que ganham até dois salários mínimos (R$ 1.908) comprometem quase um quarto de seus rendimentos com produtos alimentícios, aquelas que ganham acima de 25 salários mínimos (R$ 23.850) gastam nisso apenas 7,6% do que ganham.
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