- Folha de S. Paulo
Há comunalidades a ligar os extremos do espectro político
É verdade que vivemos tempos de polarização, mas a natureza humana ainda irmana direitistas, esquerdistas e centristas. Sempre que são apanhados num escândalo, reagem da mesma forma, minimizando as acusações que pesam contra si, mesmo que para isso seja preciso sacrificar os fatos.
O Ministério Público do Rio de Janeiro apresentou um caso forte contra Flávio Bolsonaro, que lança dúvidas sobre várias pessoas de seu entorno, incluindo o próprio presidente. Jair Bolsonaro, que se faz chamar de "mito" e vendia a ideia de que acabaria com todos os vícios da política nacional, apressou-se em qualificar as suspeitas como "pequenos problemas" e disse que nada tem a ver com eles.
Não é uma trajetória muito diferente da do PT, que se intitulava "um partido diferente", insinuando, nas entrelinhas, que era incorruptível, mas, quando flagrado no mensalão, passou a defender-se dizendo que não havia feito nada que outras agremiações também não fizessem.
A coisa não se limita a nossas fronteiras. Trump descreve seu impeachment como uma tentativa de golpe em cima de uma bobagem, numa atitude que lembra muito a de Dilma e a de Collor.
O leitor psicologicamente informado já deve ter enxergado aí as digitais do erro fundamental de atribuição (EFA), que é o viés pelo qual nós, humanos, tendemos a superestimar causas disposicionais, como genes e caráter, e subestimar elementos situacionais, isto é, o contexto, quando explicamos o comportamento dos outros --e fazer o contrário quando nós mesmos é que estamos na berlinda.
Se meu adversário foi acusado, é porque ele é mesmo um crápula que gosta de roubar o povo; se é contra mim que o MP investiu, estão fazendo tempestade num copo d'água e interpretando de forma maliciosa atos, senão inocentes, corriqueiros.
Soa meio cínico, mas me divirto ao constatar que ainda há comunalidades a ligar os extremos do espectro político.
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