Países
riquíssimos sofrem, enquanto nações pobres se saem (até aqui) bem
Normalmente,
quanto mais pobre um país, pior ele se sai em epidemias. A Covid-19 não é
normal. Estamos vendo países riquíssimos, como os EUA e vários membros da União
Europeia, comendo o pão que o diabo amassou, enquanto nações muito mais pobres,
como o Vietnã e Burundi, se saem (até aqui) bem.
Não estamos falando de diferenças de 300% ou 400% na taxa de mortalidade, mas de variações de milhares de vezes. Na Bélgica, a Covid-19 matou, até aqui, 1.930 de cada milhão de habitantes. No Burundi, cujo PIB per capita é 1/177 do belga, essa taxa é de 0,26. E isso não ocorre porque os países mais pobres foram poupados do vírus. Estudos de soroprevalência mostram que muitos deles foram tão atingidos quanto os ricos.
Como
explicar esses enigmas epidemiológicos? Siddhartha Mukherjee, autor do
best-seller “O Imperador de Todos os Males”, faz uma bela tentativa em artigo
publicado há pouco na New Yorker.
Para
Mukherjee, não temos uma só causa, mas um “blend” delas. Há razões para crer,
por exemplo, que haja uma subnotificação importante nos óbitos em países
pobres, mas não suficiente para resolver a charada. Quando o coronavírus pega
de verdade, não há como ignorar os cadáveres. Vimos isso Guayaquil e Manaus.
Bons
candidatos a explicações parciais incluem a estrutura demográfica (proporção de
idosos), comorbidades, governos mais ou menos eficazes no controle da doença e
a imunidade, inata ou ativada por outras moléstias.
Um ponto de Mukherjee que eu quero destacar é que o método científico nos induz a buscar explicações parcimoniosas, de preferência únicas, mas isso pode ser um equívoco. A navalha de Ockham é útil para conter os piores exageros de nossa imaginação fértil, mas não há na natureza nenhum princípio que favoreça o simples em detrimento do complexo. Insistir muito na parcimônia depende de nossa fé num Universo elegante. E ele talvez não seja elegante.
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