A ausência, por quase 3 meses, dos pagamentos do auxílio amplia a fraqueza da demanda
Estamos perdidos no meio de uma tempestade. Antes de tudo, pelo que aconteceu no ano passado. Desde que a pandemia mostrou sua força, mergulhamos numa crise humanitária, com elevado sofrimento e número de mortos, que nos jogou numa forte recessão.
Pior
que tudo, o negacionismo do presidente da República e a explosiva
mistura de arrogância e incompetência de seu terceiro ministro da Saúde
tornaram as coisas mais difíceis, com apelo a poções mágicas e negligência na
compra de vacinas, a única forma de combater o coronavírus nos dias de hoje.
Além disso, pego de surpresa, o ministro da Economia começou uma longa corrida atrás dos fatos, desde que declarou que “com R$ 5 bi nós matamos o bicho”. Foi o Congresso que desenhou todas as regras e a estrutura do auxílio emergencial (depois apropriado pelo Executivo), que, a partir de junho, elevou a demanda de consumo e resultou numa melhora da atividade no segundo semestre.
Nesta
semana, soubemos que a queda do PIB foi de “apenas” 4,1%, e não os 6%
a 8% que se anteviam por volta de junho.
Nesse
resultado, merece menção que, do lado da oferta, cresceram apenas o setor
financeiro, a agropecuária, os serviços imobiliários e a extrativa
mineral.
Do
lado da demanda, a queda foi universal, destacando-se o consumo das
famílias.
O pior é que não se projeta continuidade da recuperação rumo a um crescimento mais sustentável, como mostra a precariedade da taxa de investimento (que ficou abaixo de 16%, quando se corrige o impacto das importações fictas de plataforma de petróleo), a queda abrupta das expectativas de todos os agentes econômicos neste início de ano e as consequências da desastrada intervenção na Petrobrás.
Ao
contrário, até o governo já reconhece que não haverá crescimento no primeiro
semestre. Para a MB, o PIB, na margem, será negativo em 0,8% no primeiro
trimestre e 0,3% no segundo trimestre, configurando uma recessão técnica. E a
recuperação era para ter sido em “V”!
Nada
é mais distante da realidade do que declarou o ministro à Veja (23/12/20):
“Estamos disparando uma onda de investimentos. O grande desafio de 2021 será
exatamente esse. O Brasil será a maior fronteira de investimentos do mundo”.
O
conjunto de vetores aponta para um período ainda muito difícil adiante.
Antes
de mais nada, a virulência da segunda onda do vírus está produzindo
um colapso em muitos Estados, que piora o ambiente e implica restrições à
atividade em muitos lugares. O mercado de trabalho continua extremamente fraco
e os dados mostram que a população sacou uma quantia apreciável de suas
cadernetas de poupança para cobrir seus compromissos.
A
ausência, por quase três meses, dos pagamentos do auxílio emergencial amplia a
fraqueza da demanda.
Estamos
assistindo a uma piora significativa na inflação, que continua puxada pelo
custo de alimentação e outras pressões no setor industrial. Isso levará o Banco
Central a iniciar uma elevação de juros a partir de março,
pressionando a recuperação da atividade através do custo do crédito, já
prejudicado pelo avanço da tributação no sistema bancário.
Uma
coisa positiva foi a aprovação da PEC emergencial no Senado, por
trazer de volta a ajuda às famílias mais pobres. Entretanto, as contrapartes
aprovadas contêm apenas promessas futuras de avanços no equilíbrio das contas
públicas, que ainda terão muita dificuldade em se materializar.
Finalmente,
vemos uma diminuição do peso da equipe e a ausência de uma proposta consistente
e convincente de política econômica para enfrentar o momento.
Fica
cada vez mais difícil crer que uma aliança do Centrão com o Palácio
do Planalto vá resultar em reformas e ajuste fiscal. Mais fácil acreditar em
duendes.
Com o País aflito e desarvorado, podemos bater no muro em futuro relativamente próximo.
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