O
atraso da Fiocruz e da importação de vacinas da Índia vai deixar o Brasil sem
15,2 milhões de doses
da AstraZeneca/Oxford em março. Seria o bastante para vacinar 7,5
milhões de pessoas do grupo de mais de 60 anos, no qual morrem mais de 74% das
vítimas de Covid-19. Levando em conta o número diário de mortes recente, esse
buraco de um mês na vacinação vai ameaçar a vida de uns 7.400 idosos. Nem todos
seriam salvos, pois a vacina leva tempo para fazer efeito. Mas milhares
morrerão porque faltaram essas vacinas.
É um exemplo aritmético do terror, que pode ficar pior. É preciso instalar uma espécie de governo de salvação nacional da saúde, uma articulação de governadores, prefeitos e Congresso capaz de aprovar medidas legais e administrativas a fim de garantir vacinas e providências epidemiológicas coordenadas. Jair Bolsonaro está em campanha contra a República Federativa e contra a segurança nacional sanitária. Como não será impichado, precisa ser neutralizado.
Ainda
que o novo cronograma federal de vacinas fosse cumprido, já seria tarde. A
economia vai afundar pelo menos até abril. Sem antecipar vacinas, afundará por
mais tempo. O vírus pode se espalhar a ponto de causar uma epidemia
de variantes incontroláveis. O genocídio de março já está dado. O de
abril, quase garantido. Há que se evitar a marca de 400 mil mortes em maio.
Parte
do novo cronograma do Ministério da Saúde para março e abril ainda é ficção.
Parte é incerteza: houve um problema na produção dos primeiros lotes da
Fiocruz, das vacinas que serviriam para um teste antes da fabricação
"industrial". Com essa falha, em vez de entregar 15 milhões de doses
em março, a Fiocruz vai entregar apenas 3,8 milhões (ainda tentam salvar alguma
coisa mais).
Um
calendário obtido por este jornalista no governo federal prevê 32 milhões de
doses da vacina da AstraZeneca/Oxford em abril. Mas a Fiocruz por ora estima
poder entregar 25 milhões, se é que a fábrica não vai quebrar de novo. As doses
de AstraZeneca/Oxford que seriam importadas da Índia, do Serum, dependem de boa
vontade política: é grande a pressão para barrar a venda para o exterior.
No
calendário, o ministério inclui doses da Covaxin, outra indiana, 8 milhões em
março e mais 8 milhões em abril. Mas essa vacina não tem licença da Anvisa, que
começou a conversar com a fabricante apenas na quinta-feira. Aliás, nem mesmo
as vacinas AstraZeneca/Oxford a serem fabricadas pela Fiocruz foram autorizadas
pela Anvisa. Espera-se que o sejam até 12 de março.
No
calendário federal consta a entrega de um número otimista de doses do Butantan
para abril. O instituto espera, sim, antecipar a entrega de vacinas, mas isso
não é certo. Ainda para abril, o governo prevê a chegada de 2,9 milhões da
Covax e 400 mil doses de Sputnik,
que também não foi aprovada pela Anvisa.
Em
resumo, o governo espera receber 94,1 milhões de doses em março e abril. Pelo
menos 29,3 milhões são promessas ainda mais incertas ou doses de vacinas não
aprovadas.
Caso seja cumprido, o calendário federal prevê vacinas para mais de 75 milhões de pessoas até o fim de maio (cerca de 158 milhões de doses). Seria mais do que suficiente para vacinar os maiores de 50 anos e, em suma, todos os grupos das pessoas em que morrem 88% das vítimas de Covid-19 no Brasil. É o equivalente a 49% da população vacinável (maior de 18 anos) ou a 35% da população total. Ainda seria tarde. A fim de evitar genocídio e desastre econômico maiores, é preciso antecipar em quase um mês esse calendário.
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