A
inflação ronda a economia. O temor até dentro do governo é que ela não caia
depois de chegar a 7% em junho. Bolsonaro piora tudo. Ele produz incerteza,
isso pressiona o dólar que, num círculo vicioso, atinge os preços. A inflação
de alimentos fechou em 11% no ano passado e alguns produtos industriais estão
em falta, como papelão e aço. Há outros fantasmas. A dívida é alta e ficará
mais cara. Os juros futuros e o risco-país aumentaram e a Selic terá que subir.
A equipe finge acreditar que há ajuste fiscal na PEC aprovada no Senado. Ela
nada economiza a curto prazo, cria mais rigidez, fragiliza a Receita Federal e
propõe a médio prazo o que não conseguirá fazer.
Bolsonaro é a crueldade ostentação. O “vai chorar até quando?” ou o “vai comprar vacina na casa da mãe” foram lançados no rosto de um país que enterra quase dois mil mortos por dia. Ele gostaria de desviar a atenção posta sobre a mansão do filho. O mundo vê, registra e quer distância de nós. Esta semana, dois grandes jornais, um americano e um britânico, fizeram editoriais dizendo que somos fator de risco sanitário global.
Na
economia, há uma mistura pesada. Recessão, inflação, desemprego e piora fiscal.
A alta dos juros começará ao longo do primeiro semestre apesar da atividade
fraca. O mercado financeiro comemorou a aprovação da PEC Emergencial porque
acha que ela evitou o pior. O Bolsa Família fora do teto abriria mais espaço no
orçamento para despesas populistas. O ganho foi, portanto, evitar o bode voador
que apareceu na última hora. No resto, o ajuste é um saco vazio. Ele proíbe o
proibido. O salário do servidor civil já não seria reajustado este ano,
portanto esse ponto da PEC é inócuo. Ela permite a alta dos salários dos
militares e ainda carimbou despesas das Forças Armadas. Ao fim, a emenda engessou
mais o orçamento. A única desvinculação afeta a Receita Federal, o órgão que
arrecada, combate a sonegação e a lavagem de dinheiro.
O
faz de conta fiscal levou o governo a uma situação ridícula. Ele terá que
decretar estado de calamidade para acionar os gatilhos, porém os gatilhos nada
acionam. O governo precisa gastar mais por causa da pandemia, mas não consegue
formular boas políticas de ajuste.
A
parte da PEC que trata da redução de subsídios é inexequível. Felipe Salto, da
IFI, mostra que ao blindar a Zona Franca de Manaus, o Simples, os fundos
constitucionais e as entidades filantrópicas ficou inviável a proposta de
reduzir as renúncias fiscais a 2% do PIB. Teria que zerar toda a dedução do
Imposto de Renda Pessoa Física, todos os subsídios agrícolas, acabar com a lei
de incentivos para a cultura, suspender estímulos à ciência e inovação
tecnológica. Salões de beleza caros da Zona Sul do Rio são optantes do Simples,
mas o governo ameaça tomar o dinheiro do Microempreendedor Individual (MEI).
Reduzir
subsídios é necessário, mas trabalhoso. Exige olhar dentro desses gastos, para
separar o justo do injusto. Bolsonaro acabou de criar R$ 3 bilhões de subsídios
para o diesel. Não alivia o consumidor, porque o dólar está subindo, e o
petróleo, também. Mas pesa para o Tesouro. O benefício é para o caminhoneiro
autônomo. Mas também para as empresas que têm frotas de caminhões, os carrões
SUV, as lanchas. Todo benefício geral é injusto num país desigual. O trigo
subsidiado faz o pão do pobre e o das padarias gourmet. A cesta básica inclui
filé mignon, picanha, peixes nobres como salmão e subsidiá-la custou R$ 15
bilhões em 2018. Seria melhor ter dado esse dinheiro diretamente aos mais
pobres.
O que se diz até na equipe econômica é que se as expectativas de inflação ficarem sem âncora, os índices não vão cair no segundo semestre, ao contrário do previsto. E isso pode “definir o destino deste governo”. As projeções para o IGP-M já estão em 8%, depois de subirem 23% em 2020. O quadro é este: a economia está instável, a situação social é dolorosa, a pandemia mata cada vez mais e Bolsonaro escala as agressões. O objetivo dele é conhecido. Ele mente dizendo que tem plano pronto contra a pandemia, mas não executa porque o STF não deixa, e que os governadores causaram a crise econômica. Por isso ele adula as Forças Armadas. Bolsonaro é um autocrata trabalhando para uma ruptura, que, segundo o filho 03, não é uma questão de “se”, mas de “quando”. O que a família reinante parece não saber é que a economia em escombros derruba governos.
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