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O Globo
O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem se mostrado competente na análise prospectiva de nossa economia, embora de nada isso lhe valha para evitar os fracassos que prenuncia. Disse que se fizéssemos muita besteira, o dólar chegaria a R$ 5,00. Chegamos a R$ 5,53 no fim de semana sem que o ministro tenha evitado. Recentemente, disse que poderíamos virar uma Argentina, ou quem sabe uma Venezuela, em poucos anos, se caminharmos para “o lado errado”.
Mais uma vez está certo, e nada indica que consiga frear essa caminhada célere
para o abismo que o presidente Bolsonaro lidera. Bolsonaro sabe o que eu penso,
eu sei o que ele pensa, disse Guedes durante a crise gerada pela intervenção
presidencial nos preços da Petrobras. Só nós não sabemos por que Guedes não sai
do governo se não consegue conter os ímpetos intervencionistas do chefe.
Por que, então, não nos transformamos em um Paraguai pelo menos por alguns
dias, meses, e não saímos nas ruas até tirarmos Bolsonaro da presidência da
República, cargo que ele não merece exercer pela falta de compostura, a
incapacidade administrativa, e, sobretudo, a impossibilidade de enfrentar a
pior pandemia em um século no Brasil e no mundo?
Logo ele, sujeito de maus bofes, que vive procurando briga, irritadiço,
violento, agressivo. Uma guerra de ocupação, de conquista ou defensiva, talvez
encontrasse em Bolsonaro um comandante aguerrido, mas trapalhão, é o que se
depreende de ele ter ameaçado pateticamente os Estados Unidos “com pólvora”
numa imaginária guerra para proteger a Amazônia.
Capaz, mesmo tecnicamente sóbrio, de bravatas desastradas como a do General
Leopoldo Galtieri, ditador argentino que, bêbado, declarou guerra à Inglaterra
por causa das Ilhas Malvinas. Assim como não está preparado para comandar um
Exército, pois falta-lhe bom-senso e não concluiu o curso de comando do
Estado-Maior, Bolsonaro também não está preparado para exercer a presidência da
República, mas foi eleito e tem sob seu comando vários oficiais superiores, que
não lhe deixariam comandar pelotões em uma guerra, mas acham que podem ser
comandados por um político medíocre, que já demonstrou o mal que pode fazer ao
país.
Os militares que se subordinam ao capitão o fazem mais por uma hierarquia
militar, que coloca o presidente como Comandante em Chefe das Forças Armadas,
do que por amor à democracia. Pois o amor à democracia os obrigaria a
abandonar um presidente tresloucado, que está levando a morte à população
brasileira por caprichos, ignorância e cálculo político.
Em uma guerra, a morte é a regra, e, mesmo assim, o oficial que encaminha seus
comandados a atos manifestamente criminosos, ou a excessos, pode ser condenado,
mesmo em tempo de paz. Galtieri foi condenado por negligência na guerra das
Malvinas, tendo sido anistiado depois por lei especial. A guerra contra a
Covid-19, assim como na guerra tradicional, leva a morrer pela pátria, como no
caso do pessoal da linha de frente médica, que se arrisca a morrer para salvar
vidas. Desde o início da pandemia, segundo dados oficiais, quase mil mortes de
profissionais de saúde - médicos, enfermeiros, técnicos - foram registradas.
Defender a saúde pública é dever das autoridades do país, e nenhuma delas, por
mais elevado que seja seu cargo ou posto, pode desconhecer o perigo de morte,
se omitir ou dificultar o seu combate, segundo juristas. Qualquer autoridade
que não lute pela preservação da vida ameaçada por uma crise de saúde
pública comete “crime de responsabilidade”, e seus atos devem ser
apreciados e julgados. Sobretudo quando mais de 260 mil pessoas já morreram,
grande parte por negligência governamental.
“Todo mundo vai morrer um dia”, disse o presidente Bolsonaro ao comentar o
número de mortes pela pandemia. Mas apressar a morte em uma pandemia por falta
de oxigênio, de leitos de UTI, ou de vacinas, é crime.
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