Bolsonaro continua sabotando os esforços de governadores e prefeitos para reduzir a propagação do vírus com medidas mais rígidas de isolamento social
A morte do senador Major Olimpio (PSL-SP) traumatizou o Congresso, principalmente o Senado, cujo presidente, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), decretou luto oficial de 24 horas no Legislativo. Na Câmara, o presidente Arthur Lira (PP-AL) restringiu ao máximo o funcionamento da Casa: proibiu reuniões presenciais das comissões e ampliou o trabalho em home office dos funcionários. Com a morte do terceiro senador por covid-19, a pressão sobre o presidente Jair Bolsonaro para uma mudança na política sanitária aumentou muito. Mesmo na base do governo, a insatisfação é generalizada.
Major
Olimpio foi o terceiro senador a falecer vítima da doença, com a diferença de
que, aos 58 anos, era bem mais jovem do que Arolde de Oliveira (PSD-RJ), que faleceu
em outubro, aos 83 anos, e José Maranhão, de 87 anos, que morreu em fevereiro
passado. Dois senadores também contraíram a covid-19, provavelmente na
mesma reunião com prefeitos da qual participou Major Olimpio: Lasier
Martins (Podemos-RS), que teve alta do Hospital São Lucas, em Porto Alegre,
ontem, após 13 dias de internação; e Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que deve
receber alta hoje, depois de ser internado na semana passada.
Com
a falta de empatia que o caracteriza, o presidente Jair Bolsonaro deu novas
declarações colocando em dúvida as informações sobre ocupação de leitos de
hospitais, além de criticar, mais uma vez, a política de isolamento social.
Suas declarações geraram reações de governadores e prefeitos, ainda mais porque
os hospitais, por causa das UTIs lotadas, estão começando a esgotar os estoques
de oxigênio e medicamentos usados na intubação de pacientes. Numa live,
Bolsonaro anunciou que a nomeação de Marcelo Quei- roga para o Ministério da
Saúde será publicada hoje no Diário Oficial da União. O novo ministro está
tendo dificuldades para montar sua equipe de trabalho e terá de atuar com o
grupo de militares que assessoravam o general Eduardo Pazuello, até que
encontre co- legas dispostos a assumir a responsabilidade de combater a pandemia.
Bolsonaro
continua sabotando os esforços de governadores e prefeitos para reduzir a
propagação do vírus com medidas mais rígidas de isolamento social: “Tem um
pessoal que continua insistindo no fique em casa e outros que querem trabalhar
por ne- cessidade. Eu acho que ficar em casa é uma coisa bacana, quem não quer
ficar de férias em casa aí? Mas pouquíssimas pessoas têm poder aquisitivo para
ficar sem trabalhar”, disse. Insiste em res- ponsabilizar as medidas
sanitárias pela crise econômica: “Temos no Brasil servidores públicos, civis e
militares, que podem ficar em casa, que, por enquan- to, não veem sua
remuneração, proventos, aposentadorias, pensões ameaçadas. Agora, uma grande
parte dos brasileiros, os que vivem na formalidade, com carteira assinada,
perde emprego, tem redução de salário.” Chegou a dizer que recorreria ao
Supremo Tribunal Federal (STF) contra as medidas de isolamento, o que será mais
um fator de tensão institucional, em nada contribuindo para o enfrentamento da
crise sanitária.
Banco do
Brasil
O
presidente do Banco do Brasil (BB), André Guilherme Brandão, entregou o cargo
ontem, por discordar da interferência do presidente Jair Bolsonaro na
instituição. É mais uma baixa importante na equipe do ministro da Economia,
Paulo Guedes, cada vez menos liberal e mais pragmática. É o segundo presidente
do banco a deixar o cargo por divergências com o chefe do Executivo. Para
evitar especulações sobre o perfil do novo presidente do banco, o Ministério da
Economia anunciou que o cargo será assumido pelo atual diretor do BB
Consórcios, Fausto de Andrade.
Bolsonaro quer reforçar o papel social do Banco do Brasil, sendo contrário ao fechamento de agências, apesar da informatização cada vez maior do sistema bancário. O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, tem o perfil desejado por Bolsonaro, que não cansa de elogiá-lo pelo desempenho na distribuição do auxílio emergencial, apesar do alto número de fraudes já identificadas. Fausto de Andrade será o terceiro presidente do Banco do Brasil em pou- co mais de dois anos do governo Bolsonaro. Antes de Brandão, ocupou o cargo Rubem Novaes. O mercado e os funcionários temem a instrumentalização do banco para fins eleitorais.
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