Em
um país sob risco de ficar sem remédio e UTI, lideranças não reagem a Bolsonaro
No
dia mais sombrio da epidemia
no Reino Unido, soube-se da morte de 1.253 pessoas. Quer dizer, mais de 18
britânicos mortos por milhão de habitantes do país. No Brasil, seria o
equivalente a 3.913 mortes, considerada apenas a diferença de tamanho da
população, sem outros ajustes estatísticos. O Reino Unido levou mais de 20 dias
para reduzir o número de mortes diário à metade.
No
Brasil de agora, anotamos nas nossas lápides mais de 2 mil mortos por dia. Isto
é, mais de 9 mortos por milhão de habitantes (na média móvel de sete dias).
Algo menos que os picos da Alemanha em janeiro, da Espanha em fevereiro ou da
França em novembro. Esses países levaram mais de um mês para reduzir o
morticínio à metade. Isso porque, mal ou bem, têm governo. E aqui?
Por sabotagem de Jair Bolsonaro, pela pobreza, pela desigualdade ou por diferenças na interação social, as medidas de restrição tendem a funcionar menos. Mesmo se a onda de mortes diminuísse como nos grandes países europeus, ainda teríamos mil mortes por dia em meados de abril. Mas o Brasil nem sabe se chegou ao pico do monte diário de cadáveres. No presente ritmo da epidemia e pelo número de leitos por ora disponível, não haverá mais UTIs em uns dez dias, antes do fim de março.
O
clamor do desastre era alto nesta quinta-feira. Os remédios necessários para
entubar os doentes estariam para acabar em 20 dias, noticiou
Mônica Bergamo nesta Folha.
Associações de prefeitos, de secretários de saúde, de hospitais privados, de
farmacêuticos ou de médicos intensivistas avisavam do colapso dentro do
colapso. A cidade de São Paulo vai praticamente parar
na segunda quinzena de março, pelo menos (a economia paulistana faz 11% do
PIB do país).
O
Brasil vai para o matadouro bolsonariano quase em silêncio político, sem reação
maior de sua elite. Os governadores tentam administrar a crise, na ausência de
governo federal, isso quando não têm de se defender na guerra
civil midiática promovida por Jair Bolsonaro. Os estados tentam articular
uma vaga e frágil tentativa de coordenação nacional. Mas parece haver um acordo
para evitar o confronto com o genocida.
As
lideranças do Congresso estão à beira de se transformar em cúmplices de
Bolsonaro. Os presidentes de Câmara e Senado contemporizam e querem manter de
pé o acordão que os colocou nos comandos do Parlamento.
Rodrigo
Pacheco (DEM-MG), do Senado, fez declaração protocolar de interesse de agir:
“Sentar à mesa, planejar e agir o mais rapidamente possível. Isso é
fundamental! A situação crítica do Brasil exige a coordenação do presidente da
República, ações do Ministério da Saúde e toda colaboração dos demais Poderes,
governadores, prefeitos e instituições”.
Arthur
Lira (PP-AL), da Câmara, menos do que isso: “Os brasileiros precisam ter esse
conforto, e nós precisamos evitar essa agonia e esse vexame internacional...
Então nós temos, sim, que nos unir, sem estar apontando justamente culpados”.
Isso
é conversa fiada.
Parece
que o apoio restante a Bolsonaro, 30%
do povo, serve de baliza para justificar a contemporização oportunista com
a morte, ao menos na política de governistas, agregados ou cúmplices. O
possível efeito de uma convulsão política na economia, afora os
colaboracionismos animados, parece o motivo do imobilismo da elite econômica. A
morte tem um preço que, parece, vale pagar.
Não é fácil entender os motivos da apatia ou da cumplicidade. Mas era certo que neste 18 de março de 2021, o Brasil se dirigia quase sem reação para o abatedouro de Jair Bolsonaro.
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