Se
a pergunta for curta, direta e objetiva, a resposta de Bolsonaro pode consagrar
o repórter
Em
novembro de 1979, na campanha por sua indicação à disputa da Presidência dos
EUA pelo Partido Democrata, o senador Ted Kennedy foi entrevistado pelo
repórter da CBS Roger Mudd. O qual só precisou lhe fazer a primeira pergunta:
"Senador, por que o senhor quer ser presidente dos EUA?". Kennedy
vacilou, engoliu e gaguejou: "Bem, eu--- se eu for--- eu acho--- se disser
que--- concorrer--- uma das razões---", para terminar num clichê de quinta
categoria: "É que--- eu acredito neste país".
Sepultava ali sua chance de enfrentar o republicano Ronald Reagan. Os americanos não perdoam hesitação e despreparo num político, e, se Kennedy não conseguia responder a algo tão simples, o que seria quando voltassem a cobrá-lo sobre a morte por afogamento de sua secretária num acidente de carro dirigido por ele, em Chappaquiddick, Massachussetts, em 1969, e que ele nunca explicara direito?
Roger
Mudd morreu na semana passada, em Nova York, aos 93 anos, de causas naturais, e
a notícia trouxe de volta essa entrevista --uma aula para repórteres,
principalmente de televisão. Ela mostra que não há nada mais mortífero para um
político do que uma pergunta curta, objetiva, rápida e que termine com ponto de
interrogação --porque não lhe dá tempo para pensar. Ou ele responde de bate pronto,
arriscando-se a dizer o que não quer, ou embatuca ou dá uma resposta agressiva
e malcriada. E, de qualquer maneira, reveladora.
No
caso de Jair Bolsonaro, cuja relação com a imprensa independente
é a de um javali acuado e excretando, seu atual estado de nervos pode
desencadear uma agressão ao repórter por ferrabrases. Mas qualquer oportunidade
de se lhe fazer uma pergunta educada, porém direta, de primeira e com um máximo
de dez palavras —como a de Mudd—, deve ser aproveitada.
Não que se espere dele uma resposta racional. Nem precisa. A que vier arrisca consagrar o repórter.
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