Chamar
Bolsonaro de genocida parece provocação. Genocídio é o extermínio deliberado de
uma coletividade indefesa, por diferenças étnicas, nacionais, religiosas
ou sociopolíticas. O massacre de milhões de judeus por Hitler cunhou a
expressão. Esse crime contra a Humanidade é julgado em tribunais
internacionais, com pena de até 30 anos de prisão. Não prescreve. Raramente os
crimes de gestão pública chegam a Haia, na Holanda.
Por que então esse aprendiz de ditador que bajula as Forças Armadas, ameaça outros poderes, despreza minorias e persegue a imprensa é acusado de genocida? Em julho de 2020, quando os mortos por Covid eram 85 mil no Brasil, já havia em Haia três denúncias contra Bolsonaro por incitar mortes, asfixiar indígenas e propagar o vírus. No Supremo Tribunal Federal, há na pauta uma notícia-crime de genocídio. Um líder pode construir ou destruir consciência cívica. No início da pandemia, a população era mais comedida. Depois, imitou os negacionistas.
Como
Bolsonaro boicotou as vacinas e nos aproximamos de 300 mil mortos, sua rejeição
aumentou. Não importa quem é o ministro da Saúde (aliás, não importa quem é
ministro de pasta nenhuma). É Bolsonaro quem manda. As pesquisas mostram. É
Bolsonaro o culpado. É Bolsonaro o incapaz de governar. É Bolsonaro o autor do
colapso do Brasil.
Fiz
uma cartilha com sete fatos. Um bê-a-bá de como se tornar ou reconhecer um
potencial genocida. Não listei características pessoais. A frieza, por exemplo.
Só um genocida não se emociona com a morte de milhares de pessoas –
especialmente idosos, vulneráveis, ou não produtivos. Que tomem tubaína. O
deboche diante do luto nacional pode ser traço de um genocida. As ações são
ainda mais gritantes e perniciosas. Aí vão elas:
1
– Negar a pandemia. É uma gripezinha. Nada vai acontecer se você tiver
histórico de atleta. Todos vamos morrer um dia. Não podemos ser maricas e ficar
em casa. Isolamento social não adianta nada.
2
– Não usar máscara e promover aglomerações em bares, ruas, praias, contrariando
os especialistas. Propagar o vírus. Apertar a mão, abraçar, beijar, tirar
selfie, repreender ministros com máscara, vetar máscaras em presídios.
3
– Demitir um médico, Mandetta, como ministro da Saúde, por suas entrevistas
diárias, explicando à luz da Ciência como reduzir contágio e mortes. Emparedar
outro ministro da Saúde, também médico, por condenar a cloroquina. Gastar R$ 90
milhões em remédios ineficazes e fazer propaganda, tentar impor aos médicos.
Efetivar na Saúde um general boneco de ventríloquo e incompetente.
4
– Sabotar divulgação de mortos e contaminados, optando por revelar apenas quem
se curou. A censura foi contornada com o consórcio inédito de jornais e TV
Globo.
5
– Criar conflitos com o Supremo e a Câmara, incitando extremistas de direita a
atacar essas instituições, nas redes sociais e fisicamente. Ameaçar ruptura
institucional. Só mudar de atitude depois que a família começou a ser
investigada por corrupção, rachadinhas e ligação com milícias. Trocar cargos e
verbas por apoio no Congresso.
6
– Rachar com governadores e prefeitos, relegando a eles a condução da pandemia.
Inventar que o Supremo Tribunal Federal tirou sua autonomia como presidente.
Estrangular estados com a falta de liderança federal e de cilindros de
oxigênio. Chantagear quem impõe lockdown ou restrições de circulação.
7
– Boicotar as vacinas. Rejeitar a Coronavac, por ser chinesa e “do Doria”.
Recusar vacinação obrigatória. Desencorajar. Não se vacinar. Não comprar
milhões de doses da Pfizer que estariam aqui em dezembro. Proibir negociações
com os laboratórios. Barganhar o preço até obrigar estados a suspender a
vacinação. Solapar o SUS, a Fiocruz, o Butantan e todos os que poderiam já
estar produzindo e imunizando em massa. Talvez estejam no seu colo 100 mil
cadáveres.
Como você chamaria quem age assim?
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