A
tentativa de Jair Bolsonaro de inverter a narrativa sobre sua postura em
relação à pandemia, buscando posar como defensor de máscaras e vacinas, não
durou 24 horas. Quem acompanhou as postagens ao longo do dia nos grupos de
WhatsApp e Telegram não se surpreendeu com o tom adotado pelo presidente da
República em sua live, à noite.
Depois
de ter usado máscara e evitado aglomeração num evento no Palácio do
Planalto e divulgado memes tentando parecer um defensor das vacinas, o
presidente da República voltou a atacar governadores e prefeitos pelas novas
medidas restritivas adotadas em diferentes regiões.
Repetiu,
na fala de mais de uma hora, fake news e críticas que circularam de dia nos
grupos. O principal alvo foi o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que
anunciou novas restrições no estado. Um apoiador em um grupo a favor do Aliança
Pelo Brasil, partido que Bolsonaro tenta viabilizar até 2022, alertou para uma
suposta quarentena rígida de até dois meses.
“Infelizmente terá lockdown. Informação privilegiada do palácio do governo de Pernambuco, (diz que) deve sair nas próximas horas um novo decreto muito mais restritivo do que o atual, parando tudo, por um prazo de 15 a 60 dias. 23 governadores seguirão essa decisão. Tragédia”, escreveu o bolsonarista. Alertas similares foram reproduzidos em outros grupos.
A
mudança de postura que Bolsonaro encampou depois das críticas do ex-presidente
Lula não só não colou com os bolsonaristas como despertou várias críticas. Um
apoiador inclusive criticou a sanção, pelo presidente, da lei que facilitará a aquisição de
vacinas contra a Covid-19.
Em
resposta ao colega, uma simpatizante do governo justificou as recentes decisões
do governo Bolsonaro com a alegada pressão sofrida pelo presidente, que poderia
levar ao impeachment:
“Eu
te entendo perfeitamente, mas o presidente tentou incentivar o tratamento
precoce e adiar a vacina, inclusive deixando claro que não confiava nela e
portanto não tomaria e não obrigaria ninguém a tomá-la também, mas foi tudo em
vão. Então ou ele fornecia essa vacina maldita ou qualquer outro no seu lugar o
faria, porque ele seria deposto”, disparou. “É Bolsonaro contra o Supremo, 19
governadores, muitos prefeitos e grande parte do Congresso”.
Outra postagem que surgiu em vários grupos alude a um suposto estudo, sem qualquer fonte, que teria relacionado a adoção de restrições no Amazonas ao aparecimento da nova cepa do coronavírus detectada no estado, batizada de P1, que já se espalhou por boa parte do país. Dados científicos apontam o contrário: a disseminação do vírus em Manaus se acentuou justamente após a flexibilização da quarentena pelo governo estadual, no fim de dezembro.
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