Não
durou 24 horas a tentativa de cobrar civilidade mínima da iniciativa privada
Não
durou 24 horas a tentativa de cobrar o mínimo de civilidade da iniciativa
privada na compra de vacinas. Assim
que foi assinada a lei que permite a aquisição e obriga a doação das
primeiras doses ao sistema público, surgiram grupos interessados em aproveitar
o benefício e esquecer a contrapartida.
A
regra foi criada para garantir a proteção de segmentos vulneráveis e evitar a
criação de uma vacinação paralela. A lei determina que todas as doses compradas
sejam entregues ao SUS até que os grupos prioritários estejam imunizados. Mesmo
depois disso, metade das vacinas devem ficar com o setor público.
A operação fura-fila foi puxada por juízes, clínicas particulares e empresários. Horas depois da publicação da lei que criou as regras para a compra, na quarta (10), uma vara federal de Brasília autorizou a Associação Nacional dos Magistrados Estaduais a importar vacinas imediatamente para filiados e suas famílias.
O
grupo de juízes argumentou que estava exposto "a níveis maiores de risco
de contaminação pelo vírus". A decisão judicial permite a compra das
vacinas sem citar a necessidade de doação para a fila pública.
A
associação de clínicas particulares de vacinação também anunciou que vai
aos tribunais para ficar com todas as vacinas que forem compradas. A
entidade negocia a importação de 5 milhões de doses. A ideia é imunizar quem
puder pagar por elas.
Outros
empresários querem driblar
a exigência da lei e importar vacinas para seus funcionários, sem ter
que entregar as doses para os grupos prioritários no SUS. Carlos Wizard Martins
disse ao jornal Valor Econômico que já procurou o governo e estuda medidas
judiciais.
Para o médico e advogado sanitarista Daniel Dourado, a vacinação privada num momento de escassez na rede pública é um problema ético e sanitário. "Comprar e não doar é furar fila. Não tem outra interpretação possível", diz. "Se uma empresa vender ou vacinar alguém que poderia esperar, vai faltar vacina para uma pessoa do grupo prioritário."
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