Por
Cristian Klein / Valor Econômico
11/03/2021
05h00
RIO
- A volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jogo eleitoral
fortalece a polarização entre o PT e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido),
mas atores políticos ligados ao apresentador de TV Luciano Huck (sem partido)
ainda consideram que haja espaço para uma candidatura competitiva mais
centrista, na disputa pela Presidência do ano que vem.
Logo
depois da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin,
que devolveu os direitos políticos a Lula, na segunda-feira, Huck conversou com
o presidente nacional do Cidadania, o ex-deputado Roberto Freire, sobre a nova
conjuntura. O Cidadania é um dos partidos cotados para abrigar o apresentador,
caso ele decida concorrer.
Segundo Freire, os dois não trataram de filiação, mas Huck se mostrou interessado em saber da avaliação do dirigente sobre o cenário eleitoral e a quantas anda a possibilidade de fusão entre o Cidadania e o Partido Verde, legendas ameaçadas pela cláusula de barreira. Também abordaram a viabilidade de uma candidatura do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS).
Para
Freire, a entrada de Lula não muda, em essência, a polarização que estava
desenhada entre Bolsonaro e o PT. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad,
derrotado em 2018, já havia começado a circular em pré-campanha pelo país, mas
cancelou a visita que faria hoje e amanhã ao Rio, depois do pronunciamento
feito ontem em que Lula falou como candidato.
Freire
disse que Lula elegível só torna “a polarização mais explícita”, o que
“viabiliza melhor a alternativa do campo democrático”. “Ajuda a busca por
unidade nas articulações feitas hoje”, afirmou ao Valor o dirigente, para quem
Huck “é o melhor candidato para discutir o Brasil do século 21”.
O
presidente do Cidadania diz que seu partido é o único em que Huck tem a
garantia de concorrer, enquanto em outras siglas, como o DEM, isso não é certo.
“Nem para o Mandetta há garantia”, diz, afirmando que a sigla está dividida
entre os que querem apoiar Bolsonaro ou outras candidaturas, como a do
governador de São Paulo João Doria (PSDB) ou do também tucano Eduardo Leite,
governador do Rio Grande do Sul. Por causa da reviravolta no cenário, o PSDB
antecipou as prévias que seriam realizadas no ano que vem para outubro.
Freire
diz que o apresentador ainda tem tempo para definir se concorre ao Planalto ou
permanece na TV Globo, mas a volta de Lula vai acelerar a tomada de decisão. No
entorno de Huck, segundo apurou o Valor, a expectativa é que uma decisão possa
ser tomada "mais para o fim do segundo semestre". "Até o prazo
limite de filiação, em 4 de abril, é uma eternidade", conta esta fonte.
Na
visão do Freire, Lula e Bolsonaro são fortes candidatos para chegarem ao
segundo turno, mas o antipetismo continua em alta, acrescido do forte
antibolsonarismo. As rejeições favoreceriam a candidatura centrista. Para o
outro interlocutor do apresentador, Lula "está sem conexão com a classe
média e o centro da política brasileira" pois teve que se "abraçar
com a esquerda tradicional, o corporativismo", durante o período em que se
defendia dos processos da Lava-Jato e dos 580 dias em que passou na prisão em
Curitiba, apoiado pela militância. Isso o impediria de fazer um movimento em
direção ao centro, como esboçado pelo ex-presidente no discurso de ontem.
"A candidatura do Lula não esmaga o centro", afirma.
Por
outro lado, acrescenta, Bolsonaro também tem perdido eleitores mais centristas.
E Ciro Gomes (PDT) vai ser um candidato com discurso muito similar ao de Lula,
"contra as reformas". "Vai ter uma dissidência do outro lado
também", diz a fonte, minimizando a necessidade ou a possibilidade de que
haja uma unidade grande do centro, em torno de um só candidato, numa composição
improvável entre os tucanos, Huck e Mandetta.
Freire
conta que as conversas sobre fusão envolvem o presidente do Partido Verde, José
Luiz Penna, e Eduardo Jorge, que concorreu à Presidência pelo PV em 2014 e foi
vice na chapa de Marina Silva (Rede) em 2018. Desse projeto também está próximo
o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), que rompeu com o partido e
procura nova legenda.
Segundo apurou o Valor, Huck já recebeu convites oficiais de pelo menos cinco partidos: PSB, PSD, Cidadania, Podemos e DEM, além de uma sondagem do MDB.
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