“Sem
a dúvida, dado o quadro, votaria nele de novo”, diz ex-ministro
Delfim
Netto foi um dos primeiros deputados a declarar apoio à candidatura de Lula em
2002, sob o argumento de que seria importante eleger o candidato do PT, pois
ele faria uma administração ruinosa, e o partido não mais voltaria ao poder.
“Eu me enganei”, disse o ex-ministro da Fazenda e do Planejamento a esta
coluna, ontem.
“O
senhor votaria nele novamente?”
“Diante do quadro que está aí, não tenho a menor
dúvida”, respondeu Delfim, que completa 93 anos no dia 1º de maio.
Depois
da decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que
anulou todo o processo do petista em Curitiba, “não tem pecha de ladrão que
pegue mais nele [Lula]”. O ex-ministro e ex-deputado considera que a ação de
Fachin “zerou o jogo” e muito provavelmente Lula, em um confronto com Jair
Bolsonaro, será o próximo presidente do Brasil.
Depois de passar 580 dias na prisão e ser solto em novembro de 2019, agora Lula foi recolocado como possível candidato à Presidência da República pelo STF. Na quarta-feira ele fez um longo pronunciamento seguido de entrevista que, para Delfim, revelou “um orador brilhante”, com uma ideia clara sobre o país que queremos: “democrático, vigoroso e mais igualitário”.
A
exposição que fez no sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo mostra
que Lula “amadureceu dramaticamente e, talvez, para mais ninguém esse longo
tempo na prisão tenha sido tão produtivo”. Ambos, Delfim Netto e Lula, têm uma
relação de profunda amizade. “Fiquei feliz ao vê-lo em plena forma”, comentou o
ex-ministro.
Se
eventualmente Lula vier a ser eleito presidente da República em 2022, ele viria
carregado de mágoas ou não as tem mais? A essa pergunta Delfim responde:
“Esse
negócio de não ter mágoas é tudo mentira. Acho que não há ninguém que não tenha
mágoas, mas há pessoas que são capazes de agir mesmo não usando as mágoas, e
ele é um desses”.
E
o mercado, como se comportaria? A Faria Lima esboçaria alguma reação? Delfim
acredita que não haveria qualquer reação contrária. Afinal, não houve desde
então presidente que mais protegeu o mercado financeiro e teve boa relação com
os empresários.
Duas
características de Lula impressionam Delfim. “Ele tem uma técnica de reunir as
pessoas e provocá-las. Eu assisti à reunião dele com Guido Mantega [ministro da
Fazenda] e Henrique Meirelles [então presidente do Banco Central] em que ele
provocava os dois e depois arbitrava. E a esquerda que Lula representa nada
mais é do que uma preocupação com a questão social. “Em uma reunião patrocinada
pelo PT em São Paulo, em que se discutia o socialismo, Lula levantou-se e
falou: ‘Esse negócio de igualdade é ótimo, mas sem uma hierarquia nada
funciona”, relatou o ex-ministro.
Fontes
oficiais avaliam que foi até bom Lula ser recolocado na disputa eleitoral, pois
assim os bolsonaristas no governo ficam “mais espertos”. As duras críticas
feitas por Lula ao governo ajudaram a forjar o Bolsonaro das últimas horas, um
mandatário que passou a usar máscaras e parece estar empenhado em arranjar
vacinas para imunizar a população, em lugar de afrontar os protocolos que
evitam a contaminação por covid-19 e negligenciar a compra de vacinas,
patrocinando medicamentos sem qualquer comprovação científica.
Mais
medidas
Aprovada
a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) Emergencial, o governo ainda deve
aguardar a aprovação do Orçamento da União para este ano antes de anunciar
novas medidas de combate aos efeitos da pandemia. A pasta da Economia estuda,
junto com outras áreas do governo, medidas de oferta de crédito para empresas, nos
moldes da lei que reduziu a jornada de trabalho e os salários, dentre outras. A
ideia é usar menos recursos do Tesouro Nacional e aumentar a participação do
setor financeiro.
Mesmo
não tendo saído exatamente como o governo queria, a PEC Emergencial pode ser
vista como um “divisor de águas” para Jair Bolsonaro, na visão de fontes
qualificadas que temiam uma nova vitória das corporações, desta vez da polícia,
na questão dos reajustes salariais. Afinal, Bolsonaro pressionou, em vão, por
mudanças para garantir a progressão e o aumento dos salários dos policiais.
“Era
o rigor no gasto público e o compromisso de dispor de vacinas para imunizar a
população ou um mergulho no populismo”, disse uma fonte oficial.
A
proposta viabiliza a retomada do pagamento do auxílio emergencial e estabelece
gatilhos a serem acionados em caso de descumprimento do teto de gastos
públicos. O texto flexibiliza regras fiscais para financiar o benefício e prevê
um limite para gastos fora do teto de R$ 44 bilhões.
Pelos
cálculos da área técnica do governo, seriam três grupos beneficiários do
auxílio: pai solteiro receberia R$ 150; o casal receberia R$ 250, e mãe
solteira, R$ 350 por mais quatro meses, até o fim do primeiro semestre. Os
valores podem ser ligeiramente diferentes desde que a média ponderada seja
equivalente à um benefício médio de R$ 250.
A
área econômica avalia que no fim do primeiro semestre o país terá vacinado boa
parte da população, e o segundo semestre seria o da tão esperada retomada do
crescimento.
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