Nenhum
cientista, nenhuma manchete, nenhum general, nenhum empresário, nenhum pastor,
nenhuma recessão e nem mesmo os recordes sucessivos de mortos por Covid, nada
disso produziu o milagre testemunhado pelo país nesta quarta-feira. Foi Lula
quem “obrigou” Bolsonaro a usar máscara, defender vacinas e pedir imunizantes à
China.
Nem
mesmo a vacinação da mãe, Olinda, com a comunista Coronavac provocou essa
transmutação radical de Bolsonaro. Lembram outubro de 2020? “A da China nós não
compraremos, é decisão minha, mesmo se for aprovada pela Anvisa”. “Eu não tomo
vacina (contra Covid), não interessa se tem uma ordem, seja de quem for, eu não
vou tomar a vacina”. Sempre desencorajou uso de máscaras, à revelia do mundo.
Citava “efeitos colaterais”. Seu filho Eduardo foi mais grosso em vídeo nas
redes: “Enfia (a máscara) no rabo, gente, porra!” Que vergonha, deputado. Que
vergonha.
O discurso eleitoral de Lula no sindicato dos metalúrgicos, convocando a população a usar máscaras e se vacinar, mudou tudo. Bolsonaro se apresentou imediatamente depois em um bloco de mascarados. Disse que sempre foi a favor de se imunizar. O milagre estendeu-se aos filhos Flávio e Carlos, tocados com a anulação das condenações de Lula. “Nossa arma é a vacina” passou a ser o slogan da família. Cara de pau. A arma de Bolsonaro sempre foi o trabuco mesmo. Sua arma é a que cospe tiros, palavrões, bacilos e cloroquina.
“Vacinaremos dezenas de milhões de brasileiros”. O verbo está no tempo errado. O futuro deveria ser pretérito. É imperfeito e condicional na voz de Pazuello, o general passivo da ativa. Pazuello não via o porquê de “tanta ansiedade e angústia” da nação em dezembro. E hoje? “O sistema de saúde não colapsou nem vai colapsar”. Que vergonha, ministro. Que vergonha.Em
entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o vice-presidente Mourão afirma que
“faltou uma campanha intensiva de conscientização da população”. Não, Mourão,
faltou conscientizar Bolsonaro e seu ministro da Saúde. Olhe agora Joe Biden
nos Estados Unidos. Cem milhões de doses serão aplicadas nos 50 primeiros dias
de governo e quase toda a população adulta estará vacinada até julho. Uma
questão de liderança.
O
Brasil ficou sem hospitais de campanha, sem leitos, sem oxigênio, sem vacina,
limitado a jogar corpos em frigoríficos. Deveríamos vacinar, dia e noite, ao
menos 1 milhão de brasileiros. É inadmissível interromper a imunização por
falta de doses.
Temos
uma em cada quatro mortes por Covid no planeta. Somos o epicentro de uma
calamidade sem controle. O STF precisa continuar a cobrar de Bolsonaro o
repasse de recursos aos estados. O ministro Lewandowski deu prazo até o fim da
semana. O STF precisa também cobrar explicações sem desculpas esfarrapadas.
Qual é a culpa do Poder Executivo na tragédia, Supremo Tribunal Federal?
Bolsonaro não quis ter vacinas já em dezembro. Semana passada, mandou comprar
vacina na casa da tua mãe.
Nunca
foi tão fácil fazer oposição. É só ter bom senso. Contra o destempero,
recomenda-se cautela. Lula se comparou no discurso a um escravo que leva 100
chibatadas. Disse que foi vítima do maior erro jurídico em 500 anos de
história. Menos, Lula. Inspire-se nos líderes autênticos que saíram da prisão
com maior estatura e modéstia, como Mujica e Mandela, e não nos populistas que
se gabam demais e derrapam em mentiras. Você criticou o fanatismo dos
bolsonaristas. Não estimule o fanatismo dos petistas. Não precisamos de santos.
Precisamos de presidente.
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