O presidente da República aposta na resiliência de sua base e no “efeito manada” da radicalização ideológica, anabolizado pelas redes sociais, para se reeleger
Uma
pintura de Hendrick Pot, de 1640, mostra as deusas das flores passeando com
bêbados que pesam dinheiro, seguidas por uma multidão louca para ficar com o
grupo. É a representação do “efeito manada”, que o pintor flamenco captou
durante a “tulipomania” holandesa ocorrida naquele ano. Essa foi uma das
primeiras bolhas econômicas de que se tem conhecimento nas economias
capitalistas, estudada por Charles Mackay, em 1841 (Ilusões populares e a
loucura das massas, Faro Editorial). Foi o primeiro a tratar do assunto.
As tulipas de Constantinopla se tornaram populares na Alemanha e, principalmente, na Holanda, no começo do século 17. Provocaram uma febre em Amsterdã, onde eram muito apreciadas pela classe média, como acontece hoje em dia com as orquídeas. As espécies raras chegaram a ser negociadas na Bolsa, mas quando os ricos cansaram das tulipas exóticas nos arranjos florais e jardins, seu efeito na classe média passou, e os que investiram suas economias no seu cultivo foram à breca. Desde então, periodicamente, o fenômeno se repete na economia, sendo inúmeros os estudos sobre isso.
O
“efeito manada” também ocorre na política. Gera a formação de bolhas de opinião
cristalizadas, que hoje se propagam mais rapidamente, por causa das redes
sociais. Na pandemia de covid-19, por exemplo, a automedicação em massa com o
uso continuado e indiscriminado de ivectromicina, hidroxcloroquina e
anticoagulantes é um “efeito manada”. O principal beneficiário dessa bolha é o
presidente Jair Bolsonaro, que virou garoto propaganda desses medicamentos, e
os utiliza como uma espécie de “vacina” contra as acusações de ser responsável
pela falta de controle sobre a epidemia de covid-19 e a morte das pessoas, além
da falta de vacinas propriamente ditas.
Na
sexta-feira, o país havia registrado 2.866 mortes pela covid-19, nas últimas 24
horas, e 386.623 óbitos, desde o início da pandemia. O grande número de mortes
por covid-19 derreteu a aprovação do governo e confinou o presidente Bolsonaro
à bolha de apoiadores fanatizados que mantém nas redes sociais. O que pode
reverter essa tendência de queda acelerada é o controle da pandemia, que dá
sinais de queda neste fim de mês. Na sexta-feira, a média móvel de mortes no
Brasil nos últimos sete dias era de 2.514. As medidas restritivas adotadas por
governadores e prefeitos funcionaram: a variação foi de -17%. Foi a maior queda
desde 11 de novembro, quando a média móvel de mortes apresentou queda de -27%.
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