Folha de S. Paulo
Ameaça de disparada de preços dos
combustíveis produziu um ajuste na máquina da reeleição
O risco de uma disparada
do preço dos combustíveis produziu um ajuste na máquina
eleitoral de Jair Bolsonaro. Embora defendam o uso de armas diferentes, a ala
política e a equipe econômica do governo sinalizam que alguma intervenção será
necessária para conter aumentos excessivos nas bombas nos próximos meses. A
campanha levou os dois lados a falarem línguas parecidas.
A reação do consórcio bolsonarista à nova alta do petróleo indica o perigo que esse grupo enxerga nas bombas de combustíveis. Símbolo do desconforto vivido pelos brasileiros nos últimos anos, a alta acentuada de preços é considerada dentro do governo uma das principais ameaças à recuperação da popularidade do presidente e à reeleição.
A guerra na Ucrânia mexeu com algumas
expectativas políticas para o ano de campanha. Os últimos meses haviam dado
algum alívio a Bolsonaro, com sinais difusos de bem-estar econômico se
traduzindo em pontos positivos para o presidente nas pesquisas. Mas os impactos
do conflito nos preços dos alimentos e da energia devem renovar alguma
insatisfação no eleitorado.
Uma pressão inflacionária atingiria grupos
importantes para Bolsonaro. A comida mais cara, com a alta do trigo e dos
fertilizantes, afetaria principalmente os mais pobres, recém-beneficiados com o
Auxílio Brasil. A alta dos combustíveis azedaria uma classe média com
inclinações bolsonaristas e grupos organizados, como os caminhoneiros.
O Brasil vai atrás de fontes para compensar
a limitação dos fertilizantes russos, mas o esforço de guerra mais
significativo do governo está na gasolina e no diesel. Mesmo a equipe de Paulo
Guedes reduziu
as resistências a alguma política de controle temporário nas bombas.
Até aqui, Bolsonaro foi convencido a deixar
no papel seus planos de interferência no setor, em nome da manutenção de uma
fantasiosa marca liberal do governo. Agora, com sua sobrevivência em jogo e uma
guerra como justificativa, o preço político dessa conversa mudou.
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