Folha de S. Paulo
Deputado deu de cara com a parede de
tolerância zero erguida pelo movimento feminista
Para quem tem boa memória, o episódio
protagonizado pelo deputado estadual Arthur
do Val é só um revival ainda mais grotesco do que aconteceu na Copa da
Rússia, em 2018.
Torcedores brasileiros se aproveitaram da simpatia das mulheres do Leste Europeu, tão alardeada pelo membro do MBL, para abraçá-las e gritar "buceta rosa", enquanto elas sorriam sem entender o assédio que sofriam. Dias depois, mais de dez homens interromperam o trabalho de uma jornalista estrangeira aos gritos de "chupar xoxota é uma coisa linda".
Diferentemente do que aconteceu na Copa,
quando os acontecimentos foram encarados por muita gente como
"brincadeiras", é um avanço que a opinião pública tenha se unido.
Direita e esquerda, conservadores e progressistas entenderam a atitude do
deputado como o que ela representa: misoginia, racismo e falta de decoro
parlamentar.
A guerra na Ucrânia talvez tenha trazido
alguma humanidade, inclusive às pessoas que tratam as mulheres como cidadãs de
segunda categoria. Ou nem tanto. Jair Bolsonaro, que classificou a fala de
Arthur do Val como "asquerosa", disse nesta terça (8), Dia Internacional
da Mulher, que estamos "praticamente integradas à sociedade".
É o mesmo Jair que disse usar dinheiro
público para "comer mulher". O mesmíssimo que não estupraria uma
deputada por ela ser "feia". Aquele para quem o nascimento de sua
única filha foi uma fraquejada. O Jair que dançava ainda ontem um funk que
compara mulheres de esquerda a cadelas.
Bolsonaro e Arthur do Val são o retrato do
homem médio brasileiro. A diferença entre os dois é que Bolsonaro vem de uma
geração em que o machismo era não só admitido como celebrado. O segundo deu de
cara com a parede de tolerância zero construída pelos movimentos feministas que
ambos desprezam. Sem os quais, os dois estariam livres para abraçar os parças e
gritar "buceta rosa" ou qualquer coisa que o valha.
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