Blog do Noblat / Metrópoles
Nos últimos dias, os principais candidatos
à Presidente da República têm disputado quem oferece mais dinheiro ao eleitor
Houve tempo em que os candidatos ofereciam
dinheiro pessoal, diretamente ao eleitor, em troca de voto. A democracia
evoluiu: nestas eleições, os candidatos oferecem aumentar o valor de bolsas,
rendas e auxílios, pagos com dinheiro público, diretamente na conta bancária do
eleitor. A democracia ficou moderna, mas sem oferecer a possibilidade de um
país com eleitores livres das restrições da pobreza.
Nos últimos dias, os principais candidatos à Presidente da República têm disputado quem oferece maior valor e maior duração para o Auxílio Brasil, Bolsa Família ou Programa de Garantia de Renda Mínima. Sem estratégia com prazo determinado para que a evolução econômica e social torne os auxílios obsoletos e desnecessários. Um dos candidatos propõe incluir na Constituição o auxílio de R$1.000,00 por mês, por família. A qualquer momento, outro candidato vai propor R$1.200,00 e considerar cláusula pétrea. Assumindo que o Brasil condena parte de sua população a ser dependente de ajuda para sempre, escravos de transferência de renda, sobrevivendo na pobreza, tendo o que comer e mais nada.
Não entendem que a situação da pobreza é
mais do que renda, é escassez de bens e serviços essenciais: renda mínima não
coloca água e esgoto, não paga escola e saúde com qualidade. O candidato não
considera que para uma família de 5 pessoas estaria condenando cada uma a viver
com R$7,00 por dia, a um custo anual de R$244 bilhões ao ano para os atuais 20
milhões de famílias beneficiadas. Para tanto, deslocará recursos de programas
estruturais, educação, saneamento, saúde, e provocando déficits nas contas
públicas que pressionarão a inflação, desvalorizando o valor da ajuda. Diz que
este dinheiro sairá de um imposto sobre os ricos, escondendo as dificuldades
para esta reforma fiscal e ignorando que são tão poucos que os recursos obtidos
não financiarão o programa. Imposto sobre grande fortuna é uma necessidade
moral da democracia, mas pouco impacto terá nas finanças.
A impressão é de que estamos em uma
eleição-leilão, em que os candidatos oferecem mais para que o eleitor se
comprometa a comer-e-votar. Este é o slogan que prevalece para metade dos
eleitores prisioneiros da fome. Sem preocupação maior com a abolição da
pobreza, apenas com a redução da penúria. Se a eleição fosse nos anos 1880, o debate
seria entre quem defende número menor de chicotadas ou melhorar a ração diária
do escravo, não quem defende a abolição da escravidão. Ninguém propondo segunda
abolição que inclua na Lei Áurea: o filho do escravo na mesma escola que o
filho do seu proprietário, e outras medidas que superem a pobreza e a
apartação. A primeira abolição proibiu a venda e a compra de pessoas, a segunda
libertaria as pessoas
*Cristovam Buarque foi ministro, senador e governador
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