Folha de S. Paulo
Até Tarcísio concorda com o petista: crime
organizado age nas instituições do país inteiro
Cláudio Castro deixou a reunião em torno da PEC da
Segurança Pública reclamando. Ele e outros governadores bolsonaristas, alguns
dos quais nem compareceram ao Palácio do Planalto, não aceitam a proposta de a
PF colaborar nas investigações sobre organizações criminosas e milícias e a que
dá poderes ostensivos à PRF. Castro teme a perda de autonomia e que o pacto
federativo crie "uma bagunça maior".
Bagunça? Não é novidade para ninguém que Cláudio Castro está mais perdido que trabalhador em tiroteio na avenida Brasil. Não sabe o que quer nem o que fazer. Foi ele quem pediu ajuda ao governo federal, depois que a PM bateu em retirada num confronto com traficantes evangélicos. De tanto permitir que secretarias, delegacias e batalhões fossem loteados por políticos, o governador não tem mais controle sobre as polícias. Com dois anos de mandato pela frente, o seu cafezinho já é servido frio.
Lula disse
o óbvio no encontro. O crime organizado conseguiu se infiltrar em todo o
território brasileiro –não só no Rio, como muita gente pensa–, nas instituições
e nas eleições. Em dia de postura moderada, o governador Tarcísio de Freitas
concordou com o petista acrescentando mais duas áreas invadidas: usinas de
etanol e clubes de futebol.
Por coincidência –ou não teria sido
coincidência?– a reunião ocorreu no dia em que um matador de aluguel fabricado
dentro da PM foi condenado pelo homicídio de Marielle Franco. A decisão abre
caminho para o julgamento dos acusados de serem os mandantes do crime político
–um deputado federal e um conselheiro do TCE (ambos suspeitos de ligação com
milícias) e o ex-chefe da Polícia Civil
do Rio.
Se bem azeitada, a PEC é necessária. Durante
mais de 20 anos os governos do PSDB e do PT, para não se queimar,
deixaram a batata quente da segurança na mão dos estados. Foi um erro cujo
conserto não será fácil e levará tempo. Mas a sua aprovação no Congresso será
mais difícil ainda. Os políticos que exploram o medo e o sangue têm outros planos.
Quem sofre –sempre– é a população.
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