terça-feira, 5 de novembro de 2024

A frágil jactância da força – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

As promessas de Bolsonaro, dizendo que a direita está em suas mãos

Regrinha básica da vida e suas circunstâncias: quem é forte e está seguro disso não alardeia a posse da força. Faz-se potente na prática e assim demonstra a vitalidade do poder exercido. Vale para tudo e melhor ainda quando na companhia de maior ou menor grau de moderação.

Na política acabamos de ver dois exemplos opostos: o de um deputado que reza por essa cartilha e o de um ex-presidente que ignora a serventia da lição.

Em fim de mandato na presidência da Câmara, Arthur Lira (PP) ao microfone faz piada com a queda na temperatura do próprio café enquanto no bastidor constrói aliança ampla de apoios para eleger o sucessor. Gostemos ou não dos métodos, trata-se do exercício real de autoridade.

O relato de versões é outra coisa. É o que faz Jair Bolsonaro (PL) quando desembarca no Congresso para tentar reduzir o dano de derrotas na eleição municipal e ali se proclama o rei das cocadas de todas as cores, prometendo fazer e acontecer porque a direita estaria em suas mãos, dependente só dele.

Dentre os fazeres, anuncia dia depois em entrevista à Veja a intenção de registrar candidatura à Presidência em 2026 e nesta condição permanecer até "o último momento". De cara busca interditar o caminho de Tarcísio de Freitas (Republicanos), que precisaria deixar o governo de São Paulo seis meses antes.

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A narrativa por ora se contrapõe à realidade. Inelegível, o ex-presidente está na dependência de uma anistia pouco provável e ainda pode sofrer condenações no Supremo Tribunal Federal.

Além disso, há as manifestações de direitistas os quais se vangloria de controlar. No curso da eleição foi chamado de "porcaria de líder" pelo estridente pastor Malafaia; terminado o pleito, Ronaldo Caiado (União Brasil) criticou os maus modos e a "conversa cansativa" dele.

Até Valdemar Costa Neto (PL) disse que o "pessoal" de Bolsonaro precisa melhorar o jeito de falar com o eleitorado. Por fim, Pablo Marçal (PRTB) pediu que fosse "cuidar da vida" e o deixasse em paz.

São fatos modestos, mas suficientes para desmentir a jactância de poder absoluto.

 

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