O Estado de S. Paulo
O presidente Lula mudou seu discurso.
Declarou, nesta quarta-feira, que “responsabilidade fiscal não são palavras,
mas compromisso do governo”. Pelo que foi decido nesta quarta-feira e anunciado
no início da noite, podem ser mais do que meras palavras.
A mudança de tom já fora suficiente para
derrubar a cotação do dólar de R$ 5,66 para R$ 5,56. Isso mostra que as
intervenções retóricas do presidente Lula a favor da gastança e contra o
presidente do Banco Central têm a ver, sim, com a esticada das cotações da
moeda estrangeira.
Mais do que o que diz, pesa o que Lula pensa e faz. O anúncio de cortes e de observância do déficit zero no Orçamento de 2025 é um bom começo. O que precisa ser visto é se o dito será observado na prática.
Depois de esgotadas as “explicações” para a
disparada das cotações do dólar, o presidente Lula parece disposto a admitir
que seu governo é parte do problema. Começou por dizer que os apostadores na
alta da moeda estrangeira “quebrariam a cara”, dando a entender que estavam do
lado errado, sem indicar os porquês. No entanto, os tais apostadores só
ganharam com o tal jogo errado. Depois, disse que a disparada do câmbio era
resultado de “especulação com derivativos”. E, em seguida, que se devia à
“especulação contra a moeda nacional, o real”.
Sempre que uma especulação dá certo é porque
há condições para dar certo. Ou seja, há, ou havia, algo de errado na condução
da economia a ponto de criar incertezas que levem tanta gente a se refugiar no
dólar. Em todo esse tempo, Lula desancou o atual nível da Selic e ignorou que
juros altos atraem dólares, e não o contrário. Após muitos ruídos, o presidente
Lula finalmente admitiu que era preciso “fazer alguma coisa”.
A ideia de taxar com IOF a compra de moeda
estrangeira para desestimular as compras não leva em conta que boa parte da
alta não se deve ao aumento da procura de dólares, mas da redução da oferta,
por meio da retenção de receitas no exterior por parte dos exportadores.
Em todo o caso, a maior falha do governo até
aqui foi de diagnóstico. O aumento da incerteza é consequência da forte
deterioração das contas públicas. Mesmo com recordes de arrecadação, o rombo
avança porque as despesas aumentam mais que as receitas.
O problema maior não são as seguidas falações
equivocadas de Lula, mas a falta de convicção de que seja preciso atacar o
déficit. Ainda está para ser comprovado se o presidente Lula deixou de achar
que a necessidade de garantir superávit fiscal seja coisa ligada à ganância dos
banqueiros e do mercado.
Os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet
saíram prestigiados. Falta saber até quando. •
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