A nova fase da corrida presidencial reduziu ainda mais o espaço (já bem pequeno na primeira fase) para debate entre os dois finalistas das grandes questões do desenvolvimento econômico e político-institucional do país. O acirramento da disputa – com a erosão do favoritismo que a candidata governista Dilma Rousseff manteve até às vésperas do 1º turno e com a emergência da possibilidade concreta de uma vitória do oposicionista José Serra – coloca ou recoloca com mais ênfase no centro, ostensivo e disfarçado, das campanhas que os dois empreendem ataques desqualificadores do/a adversário/a, tendo em vista sobretudo influenciar eleitores indecisos ou de voto não consolidado. Como os relativos a privatizações, demagógicos e já tão batidos, ou à guerra de grupos religiosos em torno do aborto (que um estado laico tem de tratar como um problema de saúde pública). À margem da agressiva troca de acusações pessoais (que – assinalemos – constitui recurso habitual numa disputa tão acirrada), a apenas 11 dias do 2º turno cabe explorar as alternativas de cenário à vista, voltando a especular sobre a hipótese, ainda a mais provável, da eleição de Dilma Rousseff e passando a tratar da vinculada a uma vitória de José Serra.
Na edição do Top Mail de 6 de outubro, avaliei que os resultados do 1º turno (o fracasso do plano de uma eleição rápida da candidata lulista,combinada com as vitórias da oposição em Minas, São Paulo, Paraná e Santa Catarina) configuraram “boa redução do desequilíbrio político” (prevalecente no segundo governo Lula e que se prefigurava seria acentuado após o pleito nacional deste ano). Complementei que “A frustração da “onda vermelha” (com a qual o PT capitalizaria a liquidação da eleição no 1º turno) reforçou o peso que o PMDB e outros partidos e lideranças não esquerdistas deverão ter na composição de um eventual governo Dilma e na sua base de sustentação parlamentar.” Este cenário ganhou maior consistência com o expressivo crescimento dos índices da candidatura de Serra nas pesquisas do Datafolha e do Ibope feitas até agora, que reduziram pela metade (para cerca de 7%) a vantagem da adversária, energizando a oposição com a perspectiva razoável de uma “virada” até o dia 31. O radicalismo de Lula e de sua candidata na nova fase da campanha – contra o governo FHC e com a retomada da retórica classista pobres x ricos – são expedientes eleitorais que não mudam o quadro de uma correlação de forças no Congresso, na mídia e na sociedade hostil à receita esquerdista e antidemocrática para a gestão de um Palácio do Planalto gerido por Dilma Rousseff, baseada na hegemonia do PT, que José Dirceu, enunciou um mês atrás. Ao contrário, haverá necessidade imperativa de bom relacionamento com o pragmatismo centrista do PMDB, bem como de um papel importante no governo para a moderação pró-mercado de Antonio Palocci.
O “fator Aécio” de um governo Serra – A perspectiva da “virada” de Serra superou a fragilidade da candidatura no 1º turno, mobilizando a oposição, atraindo o apoio das lide-ranças do PV no Sudeste e do PMDB do Rio Grande do Sul, tornando-a efetivamente competitiva. E sua campanha no horário eleitoral “gratuito” reduziu, ao menos em parte, o excessivo personalismo do candidato, da primeira fase, passando a valorizar a participação de outras personalidades oposicionistas, inclusive o ex-presidente FHC. Mas a concretização dessa “virada” dependerá, basicamente, de um salto da votação em Minas. Ou seja, ao “fator Marina”, que levou a disputa presidencial para o 2º turno, terá de se seguir, o “fator Aécio” que, com sucesso, difícil mas possível, do esforço que o ex-governador mineiro faça para viabilizar esse salto, será o principal responsável por uma vitória de Serra. O colunista Merval Pereira, do Globo, começou assim seu artigo de ontem intitulado “Minas decide”: “Tanto o governo quanto à oposição então convencidos de que a eleição no 2º turno será decidida em São Paulo e Minas. Desde a redemocratização, nenhum presidente foi eleito sem vencer em Minas”. Mais adiante: “O ex-governador Aécio Neves, a grande liderança política mineira, em cujo empenho o PSDB deposita a esperança de reverter o quadro do 1º turno ...” (Dilma, que é mineira, teve 46,9%; Serra, 32,6% e Marina, 21,2%). Um governo Serra, viabilizado nessas condições, terá ou teria certamente de partir de uma composição básica entre ele e Aécio.
É jornalista
Na edição do Top Mail de 6 de outubro, avaliei que os resultados do 1º turno (o fracasso do plano de uma eleição rápida da candidata lulista,combinada com as vitórias da oposição em Minas, São Paulo, Paraná e Santa Catarina) configuraram “boa redução do desequilíbrio político” (prevalecente no segundo governo Lula e que se prefigurava seria acentuado após o pleito nacional deste ano). Complementei que “A frustração da “onda vermelha” (com a qual o PT capitalizaria a liquidação da eleição no 1º turno) reforçou o peso que o PMDB e outros partidos e lideranças não esquerdistas deverão ter na composição de um eventual governo Dilma e na sua base de sustentação parlamentar.” Este cenário ganhou maior consistência com o expressivo crescimento dos índices da candidatura de Serra nas pesquisas do Datafolha e do Ibope feitas até agora, que reduziram pela metade (para cerca de 7%) a vantagem da adversária, energizando a oposição com a perspectiva razoável de uma “virada” até o dia 31. O radicalismo de Lula e de sua candidata na nova fase da campanha – contra o governo FHC e com a retomada da retórica classista pobres x ricos – são expedientes eleitorais que não mudam o quadro de uma correlação de forças no Congresso, na mídia e na sociedade hostil à receita esquerdista e antidemocrática para a gestão de um Palácio do Planalto gerido por Dilma Rousseff, baseada na hegemonia do PT, que José Dirceu, enunciou um mês atrás. Ao contrário, haverá necessidade imperativa de bom relacionamento com o pragmatismo centrista do PMDB, bem como de um papel importante no governo para a moderação pró-mercado de Antonio Palocci.
O “fator Aécio” de um governo Serra – A perspectiva da “virada” de Serra superou a fragilidade da candidatura no 1º turno, mobilizando a oposição, atraindo o apoio das lide-ranças do PV no Sudeste e do PMDB do Rio Grande do Sul, tornando-a efetivamente competitiva. E sua campanha no horário eleitoral “gratuito” reduziu, ao menos em parte, o excessivo personalismo do candidato, da primeira fase, passando a valorizar a participação de outras personalidades oposicionistas, inclusive o ex-presidente FHC. Mas a concretização dessa “virada” dependerá, basicamente, de um salto da votação em Minas. Ou seja, ao “fator Marina”, que levou a disputa presidencial para o 2º turno, terá de se seguir, o “fator Aécio” que, com sucesso, difícil mas possível, do esforço que o ex-governador mineiro faça para viabilizar esse salto, será o principal responsável por uma vitória de Serra. O colunista Merval Pereira, do Globo, começou assim seu artigo de ontem intitulado “Minas decide”: “Tanto o governo quanto à oposição então convencidos de que a eleição no 2º turno será decidida em São Paulo e Minas. Desde a redemocratização, nenhum presidente foi eleito sem vencer em Minas”. Mais adiante: “O ex-governador Aécio Neves, a grande liderança política mineira, em cujo empenho o PSDB deposita a esperança de reverter o quadro do 1º turno ...” (Dilma, que é mineira, teve 46,9%; Serra, 32,6% e Marina, 21,2%). Um governo Serra, viabilizado nessas condições, terá ou teria certamente de partir de uma composição básica entre ele e Aécio.
É jornalista
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