segunda-feira, 20 de junho de 2011

Dilma e seu paradoxo :: Fernando de Barros e Silva

"Estou de saco cheio de ver companheiro acusado, humilhado, e depois não se provar nada." Era Lula, anteontem, num encontro do PT paulista. No contexto da frase, defendia Antonio Palocci, o maior consultor do Brasil. Mas poderia estar falando dos mensaleiros, dos aloprados, do caso Santo André, da família Erenice ou do próprio Palocci, aquele envolvido na violação do sigilo do caseiro -para lembrar só os "greatest hits" do petismo na vida como ela é. Humilhação? De quem contra quem?

Lula, no entanto, não estava preocupado com Palocci, e sim com as brigas internas na bancada do PT na Câmara. Lembrou que o mensalão só veio à tona porque o partido "estava desunido" -como se se tratasse de um problema de falta de coesão, e não de princípios -e passou a seguir um pito coletivo:

"Tem deputado me ligando, querendo conversar. Vocês têm que resolver entre vocês. Todo mundo aqui é maduro, é cientista político. Temos que dar tranquilidade à companheira Dilma".

Ao se colocar como mediador e fingir não fazê-lo, Lula, na prática, cuida da articulação política entre Dilma e seu partido. Como já havia feito entre o PMDB e a presidente.

Sua atuação não traz de volta apenas o estilo palanqueiro, de inflamação retórica e ameaças, que Dilma estava decidida a aposentar. Traz de volta, além disso, a percepção de quem sem ele, Lula, a base aliada será incapaz de conter sua tendência à autofagia. Mais do que interlocutor, Lula age (e também vem sendo solicitado) como o grande fiador da governabilidade -seja porque os aliados não reconhecem a autoridade política da presidente, seja porque os apetites do consórcio no poder são maiores que o prato que o governo pode entregar.

A presença de Lula enfraquece Dilma; sua ausência a desestabiliza. Passada a lua de mel (e a quarentena), o governo parece pendular entre uma coisa e outra, refém de um paradoxo que é péssimo para Dilma e ótimo para seu padrinho.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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