No Rio, de 92 municípios, 63 tiveram índice de Desenvolvimento Humano (IDH) abaixo da média nacional. Apesar de ter o segundo PIB do país, o estado é o quarto em bem-estar. Já a capital está em 45º lugar no ranking das Nações Unidas. Com isso, fica de fora da "elite" dos municípios, de muito alto desenvolvimento. Nesse seleto grupo está apenas Niterói, em sétimo lugar. O governador Sérgio Cabral disse que, com os investimentos que o estado está recebendo, o IDH deve subir. No Brasil, a educação deu o maior salto, mas está abaixo de renda e saúde
Rio fora da elite do IDH
Capital está em 45º lugar, e estado tem 63 cidades com índice abaixo da média do país
Clarice Spitz, Nice de Paula, Cristiane Bonfanti e Demétrio Weber
RIO e BRASÍLIA - Os avanços na qualidade de vida dos brasileiros nos últimos 20 anos foram acompanhados a passos mais lentos pelo Estado do Rio, mostra o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, lançado ontem, em Brasília. A capital fluminense, que em 1991 aparecia como um dos dez maiores Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do país, agora está no 45º lugar. A exemplo do IDH nacional, o IDHM mede a qualidade de vida da população a partir dos critérios de renda, saúde e educação. Apesar do Estado do Rio ter a segunda maior economia do Brasil, perdendo apenas para São Paulo, dos 92 municípios fluminenses, 63 tinham IDHM inferior à média nacional, de 0,727 (o índice varia entre zero e um e, quanto mais perto de um, melhor), em 2010.
Produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação João Pinheiro, o atlas utiliza dados dos censos do IBGE de 1991, 2000 e 2010. Ao lançar a publicação, o presidente do Ipea e ministro interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri, destacou que o quadro do Brasil é desafiador. Ele disse que a fotografia ainda é ruim, mas o filme aponta avanços. O ministro ressaltou que, nos últimos dois anos, os indicadores sociais e do trabalho seguem avançando. Segundo ele, programas de transferência de renda, como Bolsa Família, tiveram apenas um papel de coadjuvante na melhoria da renda e do IDHM como um todo.
- Eu daria um Oscar de ator coadjuvante para o Bolsa Família - disse Neri. - Estamos num momento crítico de mudanças. Acho que o Brasil, o chamado das ruas, nos pede respostas. E acho que esse trabalho identifica lugares. A resposta para o Brasil não é uma só.
No mapa do desenvolvimento humano brasileiro, o Rio aparece em quarto entre os estados brasileiros, atrás de Distrito Federal, São Paulo e Santa Catarina. A capital fluminense, que já teve o nono melhor IDHM do país, caiu para a posição 61 em 2000 e, agora, está em 45.
Para o economista Leonardo Muls, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFF), a posição do Rio no ranking surpreende negativamente, mas ajuda a entender os protestos que têm varrido as ruas da cidade.
- O IDH mede o bem-estar da população, que significa qualidade de transportes, educação, segurança. Esse indicador diz que a gente está muito aquém do que deveria e os protestos, também. A impressão é que existe um discurso oficial se vangloriando de ter atraído investimentos, de sediar grandes eventos, mas no dia a a dia da população as carências estão aí - diz.
Para o professor da UFF, o Rio sofre principalmente pela falta de planejamento de longo prazo, capaz de desenvolver a economia para não deixar o estado tão dependente dos recursos do petróleo. Mesmo cidades que recebem elevados royalties do petróleo, como Campos dos Goytacazes e Quissamã, têm IDHM inferior à média do Brasil.
Especialista em economia fluminense, Mauro Osório, acha que, no caso da capital, a desigualdade elevada dificulta o desenvolvimento humano.
- Enquanto 22% da população vivem em favelas, em São Paulo são 11,42% e Belo Horizonte, 12,96% - afirma.
Em nota, o governador do Rio, Sérgio Cabral, destacou os investimentos que o estado tem atraído: "O Rio nesses últimos sete anos vem fazendo um grande esforço em busca do tempo perdido. Foram décadas de ausência de investimentos na educação, na saúde, no saneamento, na infraestrutura. Tenho certeza de que com o Rio de Janeiro tendo hoje o maior volume de investimentos públicos e privados do Brasil, inclusive na infraestrutura e nos serviços públicos essenciais para a população, o nosso IDH nas próximas avaliações certamente estará em melhor posição", afirmou.
Procurado, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, não respondeu o pedido para comentar os resultados dos IDH.
No estado, somente Niterói tem índice de desenvolvimento considerado muito alto. No país, são 44 municípios nesta situação. A cidade de Niterói, no entanto, caiu duas posições no ranking nacional na última década. Em 2010, aparece em sétimo lugar geral e tem a segunda maior renda do país. Em 1991, era a terceira no ranking de todos os 5.565 municípios do país. O estado não tem municípios classificados como de desenvolvimento baixo ou muito baixo.
- Ficamos orgulhosos com a posição de Niterói. É uma população com escolaridade maior que a média do Rio e um capital humano extraordinário. Entretanto, nos anos recentes, a cidade observou ausência de ações do poder público municipal. Estamos melhorando o plano estratégico para recuperar as posições que a cidade perdeu - diz Rodrigo Neves, prefeito de Niterói.
Camila Alves da Silva mora em São Gonçalo. Aos 17 anos, cursa o segundo ano do ensino médio e já superou a mãe, que só conseguiu concluir o ensino fundamental. Decepcionada com a falta de estrutura e professores da escola pública, resolveu se matricular num colégio particular e ontem tirou sua primeira carteira de trabalho.
- Eu estou querendo ver esse negócio do Jovem Aprendiz e começar a trabalhar agora, para ter meu próprio dinheiro e futuramente poder pagar minha faculdade - planeja a jovem, que sonha em estudar Gastronomia.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário