Octávio Costa
A passagem da presidente Dilma Rousseff e sua imponente comitiva pelo World Forum de Davos valeu a pena. Não pela pompa e pelos discursos otimistas, mas, sim, pelo resultado do contato direto com empresários e altos executivos. Ficou claro que o mercado financeiro internacional está de pé atrás em relação à economia brasileira e exige ações concretas e objetivas que comprovem que o Brasil continua a zelar pela solidez dos fundamentos econômicos. Não bastam palavras e boas intenções. É necessário pôr em prática ações que restabeleçam a confiança dos investidores. Do contrário, o país corre o risco de ser colocado na vala comum de países emergentes em apuros, em companhia de Argentina e Venezuela.
A ficha caiu e as providências estão sendo tomadas antes mesmo do retorno de Dilma Rousseff a Brasília. Enquanto ela fazia sua peregrinação emotiva por Cuba, técnicos dos Ministérios da Fazenda e do Planejamento debruçaram-se sobre os números do Orçamento da União de 2014, com o objetivo de demonstrar ao mundo a firme disposição do governo de garantir a solidez fiscal e a estabilidade da dívida pública. Pelos cálculos preliminares que vazaram da equipe econômica, o corte no Orçamento poderá chegar a R$ 30 bilhões, acima, portanto, dos R$ 28 bilhões do ano passado. Além disso, fala-se também em elevação da meta de superávit primário para 2,09% do PIB.
Em ano eleitoral, de sucessão na Presidência da República, é muito difícil acreditar num ajuste fiscal para valer mento de despesas, mas dessa vez não fez firula e foi direto ao ponto. Haverá um esforço fiscal maior e os novos números devem ser reve -lados até o dia 20 de fevereiro. Embora sem antecipar a dimensão exata do aperto, o ministro Guido Mantega confirmou a decisão. "Não está definido qual vai ser o corte que nós vamos fazer no orçamento, mas certamente será um corte que vai manter a solidez fiscal e a estabilidade da dívida líquida", disse. Mantega informou que estão sendo feitos estudos e simulações antes de chegar ao número definitivo. O corte ainda será submetido à presidente Dilma quando voltar de Havana. Também caberá a ela fazer a escolha de Sofia sobre os setores mais sacrificados
Trata-se, sem dúvida, de uma resposta aos críticos que apontam descompromisso do atual com os gastos correntes e equilíbrio das contas públicas. Mas se trata também de medida necessária para manter a inflação sob controle e vem se somar ao arsenal de juros do Banco Central. Muita gente diz que a tarefa do Banco Central tem sido ingrata nos últimos meses: enquanto o Copom aperta o torniquete monetário, a Fazenda mantém frouxa a política fiscal, preocupada em assegurar uma taxa de crescimento razoável. Com o corte do Orçamento, seria restabelecida a harmonia na equipe econômica. Mas há que aguardar os acontecimentos.
Em 2010, Dilma Rousseff foi apresentada ao país como a mãe do PAC, gerente de um canteiro bilionário de obras públicas. Ela foi eleita em grande parte graças ao sucesso das políticas anticíclicas do governo Lula, que permitiram ao Brasil navegar ao largo da crise internacional. Um ajuste mais forte agora pode significar uma freada de arrumação na economia, com aumento do desemprego. Esse pode ser o preço para conter a inflação, mas não é o cenário ideal para quem pretende se reeleger.
Fonte: Brasil Econômico
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