No último trimestre de 2013, predominava ampla-mente entre os analistas a avaliação de que a disputa presidencial deste ano seria concluída logo no 1º turno com a reeleição de Dilma Rousseff, mesmo que por uma vitória pouco elástica em face das perspectivas do comportamento da economia, que já se prenunciava precário. Este cenário prospectivo foi progressivamente substituído ao longo do primeiro trimestre pela configuração da possibilidade de transferência da disputa para um 2º turno pelos reflexos de dois fatores: a deterioração de tais perspectivas (com sensível piora dos indicadores da economia e do potencial de efeitos sobre a inflação) e a contra-posição de concorrentes competitivos (com o PSDB, enfim unido em torno da candidatura de Aécio Neves, e com a de Eduardo Campos assumindo clara postura oposicionista, recebendo o apoio de Marina Silva e, assim, consolidando-se). As duas – juntas e engrossadas por um potencial de votos acima de 5% de candidaturas chamadas nanicas – tornariam possível, embora improvável, a referida transferência.
Uma sucessão de fatos políticos e econômicos, ocorridos e em andamento desde o início de abril, vai convertendo essa possibilidade em provável – ou seja, esperada – solução da disputa no 2º turno. Cenário agora previsto pela maioria dos analistas e admitido, já até explicitamente, por dirigentes do PT. A eclosão dos escândalos envolvendo a Petrobras, combinada com um salto dos preços de alimentos e de serviços, amplia na sociedade, no eleitorado, a percepção do despreparo e da ineficiência do governo Dilma, bem como a respeito do enorme aparelhamento partidário (à frente o lulopetismo) da máquina administrativa federal e dos consequentes atos de corrupção e desvio de recursos públicos. Que passa a manifestar-se em quedas de avaliação da presidente/candidata, de acordo com as recentes pesquisas do Datafolha e do Ibope. Isso numa fase em que, usando intensa e caríssima publicidade como chefe do Executivo e postulante à reeleição, precisaria manter e elevar os índices de respaldo social para quando tiver, enfim, que enfrentar os adversários na propaganda eleitoral “gratuita”. E percepção que se manifesta também entre os diversos atores da cena política (inclusive entre os dirigentes e parlamentares da base governista), que partem para reavaliar acertos anteriores de apoio à reeleição. Após generalizar-se entre os agentes econômicos, internos e externos, cujo pessimismo se reforçou esta semana com as projeções do boletim Focus – nova redução no crescimento do PIB, de 1,65% para 1,63%, e aumento da taxa oficial de inflação, para 6,51%, além do teto da meta, 6,50%.
Essa reavaliação não inclui ainda dados que só as pesquisas do final de abril ou a serem feitas em maio poderão somar às fortes quedas da popularidade de Dilma Rousseff: os do começo de provável capitalização dessas quedas pelos adversários Aécio e Campos. O que reforçará as pressões do “volta Lula” no PT e em lideranças das legendas aliadas mais próximas, ou eleitoralmente dependentes do ex-presidente. O qual, entretanto, insistirá na candidatura Dilma “até para perder”, como afirmou dias atrás a um parlamentar petista, conforme foi revelado por um colunista político.
Em seu artigo de hoje no Globo, o jornalista Merval Pereira resume, assim, os “pontos-chave dos problemas políticos do governo e do petismo: “1 – Cada notícia sobre os atrasos das obras para a Copa é mais um ponto negativo na avaliação da capacidade de gestão do governo. 2 – A crise da Petrobras poderia ter sido evitada se Dilma não tivesse furado, com seu “sincericídio”, a bolha de mentiras que protegia o mau negócio da refinaria de Pasadena. 3 – O caso de André Vargas, que insiste em não renunciar, porém, é exemplar de como a situação política foge ao controle dos caciques petistas, até mesmo do maior deles, o ex-presidente Lula.” Cabendo acrescentar, quando à gestão de nossa maior estatal, o seguinte trecho do editorial do Valor: “É estranha e nefasta a propensão de a Petrobras meter-se com refinarias de custos inflados. Se Pasadena custou, na melhor das hipóteses, quase quatro vezes o que a Petrobras diz que os belgas pagaram por ela (US$ 345 milhões), o que dizer da refinaria de Abreu e Lima, cujo orçamento de US$ 2,5 bilhões já saltou para US$ 18 bilhões. O preço de Pasadena é baixo perto da instalação de Pernambuco, que já deveria ter sido investigada há muito tempo”
Jarbas de Holanda é jornalista
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