A política para 'corromper' a Justiça
• Barbosa cria debate ao criticar novamente encontro de Cardozo com advogados
- O Globo
BRASÍLIA - Em nova investida pelo Twitter, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, que passou o carnaval no Rio, fez surgir um debate entre seus pares. Em seu perfil na rede social, o ex-ministro escreveu que "os que recorrem à política para resolver problemas na esfera judicial não buscam a Justiça. Buscam corrompê-la".
Desde sábado, Barbosa critica o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, por ter recebido em seu gabinete, no dia 5, três advogados da empreiteira Odebrecht, envolvida na Operação Lava-Jato. Para Barbosa, "se você é advogado num processo criminal e entende que a polícia cometeu excessos/deslizes, você recorre ao juiz. Nunca a políticos!". Na opinião de um ministro e um ex-ministro do Supremo, ouvidos ontem pelo GLOBO, é normal que autoridades recebam advogados desde que as audiências apareçam na agenda. Desde que listando o nome dos envolvidos, das empresas que representam e o objeto da conversa.
No sábado, depois que veio a público a informação de que Cardozo recebeu os advogados Pedro Estevam Serrano, Maurício Roberto Ferro e Dora Cavalcanti, ligados à Odebrecht, sem detalhar na agenda, Barbosa pediu que a presidente Dilma Rousseff demitisse o ministro.
Cardozo também teria se encontrado com um advogado da UTC, também envolvida no escândalo da Petrohras. A assessoria da UTC informou que o advogado que encontrou Cardozo não representa a empresa. A Odebrecht não respondeu ao GLOBO.
Ontem, Barbosa escreveu que se considera um "cidadão livre: livre das amarras do cargo público. Na plenitude dos seus direitos, pronto para opinar sobre as questões da Pólis" (denominação usada na Grécia antiga para a organização social que elaborava as leis).
Cardozo, que admitiu ter se reunido com os advogados e revelou que lhe entregaram representações sobre a atuação da PF na Lava-Jato, por sua assessoria, preferiu evitar polêmica: "Como qualquer cidadão brasileiro, (Barbosa) tem o direito de emitir opinião sobre fatos da vida pública nacional".
No meio jurídico, Barbosa fez surgir o debate. Ex-ministro do STF, Carlos Ayres Britto disse que é normal autoridades receberem advogados para ouvir queixas:
- Nunca deixei de receber. Isso não prejudicaria meu dever de ver com isenção.
Ayres Britto destacou, no entanto, que essas conversas não podem buscar "o acobertamento ou o acumpliciamento" de crimes. Seria "inadmissível".
O ministro Marco Aurélio Mello lembrou que é atribuição de ministros receber advogados e criticou Barbosa:
- Eu não vejo problemas.
A OAB informou que o advogado tem o direito de ser recebido por autoridades, e que não é "admissível" criminalizar o exercício da profissão.
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